terça-feira, 10 de agosto de 2010

PRONUNCIAMENTO DO COLÉGIO EPISCOPAL SOBRE AS ELEIÇÕES NACIONAIS DE 2010.


Os bispos e bispa da Igreja Metodista, ministros de Jesus Cristo a serviço da Igreja, aos irmãos e irmãs metodistas de todo o Brasil: Graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai, de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, e do Espírito Santo, nosso fortalecedor e instruidor! Amém!


Introdução
O Colégio Episcopal da Igreja Metodista, no momento em que todo o país se prepara para as eleições de outubro próximo, sente-se no dever de se dirigir ao povo metodista através desse pronunciamento sobre as eleições de 2010.  Buscamos dar as orientações pastorais que julgamos necessárias neste período eleitoral que requer posições conscientes e maduras frente a tantos desafios que chegam para a Igreja como também aos diversos segmentos da sociedade brasileira.

Orientações pastorais do Colégio Episcopal
O Colégio Episcopal dirige-se de maneira pastoral em particular a todos os  irmãos e irmãs que, em nossas comunidades, são responsáveis pela formação doutrinária dos/as metodistas, através das diversas ações pastorais. Dirige-se aos segmentos, sejam eles do ministério pastoral ou dos/das lideres leigos/as nas áreas da educação cristã, ação social, evangelização e demais segmentos da igreja que visam a formação integral do povo metodista para a prática consciente da missão de Deus no mundo, por intermédio daqueles que professam o Senhorio de Jesus Cristo em suas vida.
Sob a direção e ação do Espírito Santo, lembramos a todos/as que:
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“A Igreja Metodista reconhece que é sua tarefa docente capacitar os membros de suas congregações para o exercício de uma cidadania plena” (Credo Social, seção IV, item 1, p. 9.).
E ainda que:
“O propósito primordial dessa missão é servir ao Brasil através da participação ativa do povo metodista na formação de uma sociedade consciente de suas responsabilidades (Credo Social, seção IV, item 2, p. 9).
Neste sentido acreditamos na democracia como um valor universal. Desta forma:
·         Acreditamos que a democracia tem muito a ver com os valores do amor ao próximo, da igualdade, da solidariedade, da participação e da tolerância proclamados e testemunhados pelo Evangelho de Jesus Cristo.
·         Acreditamos que a democracia moderna encontra sua grande inspiração nas melhores tradições da Reforma Protestante do Século XVI.
·         Afirmamos que todos os regimes autoritários e as ditaduras, que impedem e dificultam as manifestações e a participação plena das minorias sociais de qualquer cor política, são incompatíveis com a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.
·         Afirmamos e conclamamos a participação plena, ativa e consciente de todo o povo no processo democrático.
·         Afirmamos que as próximas eleições serão mais um passo decisivo para o estabelecimento da confiança popular nos mecanismos democráticos de alternativa dos governantes e nos meios de controle social das ações dos governos – mecanismos políticos que garantem  transferência e substituição dos partidos no governo através do voto popular consciente, livre e soberano (Carta Pastoral “As eleições de 1994”).

O Cenário político onde se darão as eleições de 2010
Conhecer o cenário político social econômico onde se dará as eleições é significativo, para que o povo metodista desenvolva uma visão crítica dos acontecimentos políticos dos últimos anos e a atuação política dos candidatos.
“Muitos acontecimentos chamam a atenção de todos nós e devem ser considerados nas escolhas dos candidatos (as) durante as eleições deste ano. Entre eles, vivemos um momento em que a credibilidade do presidente da república atinge altos níveis. Por um lado isso é resultado da conjuntura internacional e da política econômica. Por outro, tal credibilidade resulta também de uma política de elevação da renda das classes populares e da criação de mercados internos que atendem a setores antes excluídos e geram esperanças de vida para muitas pessoas, muito embora tais mercados sejam muito frágeis, porque regionalizados e neles girem capitais muito limitados” (Pastoral “Eleições Municipais, 2008”).
Também é oportuno indicar que há uma “série de acontecimentos que estão relacionados à corrupção, abuso do poder econômico, e avanço da lógica voraz do capital, que têm sido constantes no país”. É verdade que são notados sinais de esperança, em que os criminosos detentores de grandes somas de capital e de poder de influência na sociedade têm sido investigados e em alguns, ainda poucos casos, levados à julgamento. Mas também é verdade que há muita resistência em relação a isto, principalmente por parte dos setores vinculados ao poder econômico e à parte da mídia comprometida com estes interesses. Isso dificulta a consolidação da democracia e reforça o individualismo típico da “cidadania privada”, com seu ideal de que é possível vencer “se cada um fizer a sua parte”
Entendemos que desde o seu início da história do Brasil a classe dominante teve o comportamento de quem apenas deseja explorar as riquezas existentes nesta terra e não construir uma nova nação, firmada nos ideais de liberdade e justiça. Mas é também oportuno lembrar a história de lutas sociais em prol da cidadania e da democracia levada adiante pelos brasileiros e brasileiros nestes cinco séculos, e que o momento em que chegamos hoje é resultado do esforço e trabalho destes que nos antecederam.
 Recebemos cotidianamente um volume imenso de informações que nos causam horror, tristeza, medo e indignação, o que se torna elemento gerador da apatia social, com o que perdemos a oportunidade de avançar na construção de um projeto democrático e cidadão pautado na ética e na paixão pela vida. O resultado é que com isso se estabelece certa indiferença do eleitorado.
Estamos assistindo com certa perplexidade as discussões a respeito da implantação da lei da “ficha limpa”, que veda a candidatura de políticos com condenação em órgão colegiado. É conveniente reafirmar que esta lei nasceu como fruto das pressões da sociedade civil, que se articulou e propôs o projeto de lei de iniciativa popular, que é expressão da democracia direta. Espera-se que a aplicabilidade desta lei possa contribuir para melhorar a gestão pública.

Um voto com característica cidadã
Como cristãos /ãs e cidadãos/ãs responsáveis perante Deus e comprometidos/as com a paz e a justiça, não devemos ser influenciados a votar de acordo com interesses próprios e que ferem os princípios do Reino de Deus.
Devemos tomar muito cuidado com o voto baseado em soluções momentâneas para os problemas enfrentados pela sociedade. Nosso voto deve refletir a consciência de que as mudanças sociais fazem parte de um processo, no qual é necessário caminhar em conjunto com os vários segmentos da sociedade, visando à preservação de toda a criação e da dignidade humana.
Ter conhecimento do passado do candidato e de seus reais compromissos políticos  é o melhor referencial para saber se ele realmente vai cumprir o que está prometendo.
Ser protagonista de um processo eleitoral  frente às situações que ameaçam a vida e inviabilizam os valores do Reino de Deus.
Precisamos exercer um voto ético, comprometido com o Reino de Deus, que se afirma em uma plataforma política cidadã em que a vontade soberana do Senhor é vista e sentida na vida de todos os seus filhos e suas filhas. Candidatos/as que a cada eleição se apresentam de maneira diferente, frutos de estratégias de marketing e alianças comprometedoras não são dignos de nosso apoio.
Exercer o voto ético significa, também,  que ninguém deve receber nosso voto simplesmente por expressar uma religiosidade evangélica. Antes, devemos recordar que “a fé, se não tiver obras, por si só estará morta” (Tg 2.1). Essa pessoa deve demonstrar, com sua vida pública, competência e seriedade para o cargo. Afinal, a religiosidade exterior não resolve os graves problemas de nosso país, mas sim o exercício da “fé cidadã”. Voto é coisa séria! O voto correto se vincula a uma plataforma de governo correta. Isto é, o/a candidato/a que irá receber o seu voto deve ser uma pessoa que mereça sua confiança, acima de tudo por ter uma proposta política para o conjunto da sociedade e estreitamente comprometido com os valores do Reino de Deus.
Precisamos de propostas concretas, como concretos são os problemas de nosso país. Nesta direção, torna-se importante pontuar o protagonismo de muitos movimentos sociais, que se articulam, com muita sabedoria no espaço político, na busca por seus direitos, como ocorre, por exemplo, com movimento de mulheres, de negros, pessoas com deficiência, entre outros.  Os candidatos devem ser dignos de nosso voto sempre que apresentem propostas concretas e abrangentes para a solução dos problemas da cidade e da sociedade em seu sentido mais amplo.
O voto ético não se destina a políticos descomprometidos, e sim aos que são “sal da terra e luz do mundo”. Ele não é vendido ou trocado por bens materiais, mas “traz vida em abundância”. Não se deixa levar pelas aparências, e sim fortalece a verdade que liberta. Ele é consciente e traz à memória o que nos pode dar a esperança de uma sociedade cidadã (Adaptado da Pastoral “Eleições Municipais 2008”).

Eleições de 2010
No dia 03 de outubro, em primeiro turno e no dia 24 de outubro em segundo turno, iremos enquanto cidadãos e cidadãs, escolher as lideranças nacionais e lideranças dos estados, além de deputados estaduais, federais e senadores. Como povo de Deus que permanece no mundo, somos chamados ao exercício de nossa cidadania, comparecendo todos e todas em suas respectivas seções eleitorais para a escolha de nossos candidatos e candidatas.
A primeira preocupação que surge neste momento é a respeito da motivação que nos leva ou nos afasta das urnas. Não devemos negar nossa inserção no mundo, deixando de lado o exercício do voto consciente, pois não basta apenas votar em qualquer um, anular ou votar em branco.
Segundo, não devemos tratar o pleito eleitoral como aprovação ou rejeição do atual governo, mas sim uma escolha entre projetos de governo, dos quais, devemos optar por quem tenha o projeto que mais se adéque ao momento atual em que o país está inserido, seja este projeto para o executivo ou para o legislativo.
Devemos escolher a partir de uma análise da história do candidato (a), o que ele (a) apresentou como fruto nas oportunidades em que teve para o exercício de mandato(s) conferido(s) pelo povo e se há ou não algum tipo de envolvimento com casos de escândalos ou corrupção. O projeto “ficha limpa” é um recurso importante
Outro cuidado é com a roupagem que especialistas na área de marketing apresentam aos seus contratantes, pois nem sempre o que se vê nos programas eleitorais ou nos momentos em que os candidatos se apresentam, representam aquilo que efetivamente eles e elas  são, por isso a importância de se conhecer a história política dos nossos escolhidos, a fim de verificarmos se esta história se coaduna com os valores do evangelho de Jesus Cristo.
O voto consciente e cidadão é que possibilita a justiça social a ser uma prática no nosso país, apontando para:
- um sistema de saúde que possa atender a todos e todas com qualidade e dignidade necessárias; 
- uma segurança pública eficaz, permitindo que todos e todas possamos viver sem medo de serem vítimas de algum crime;
- um serviço social de qualidade, que possa efetivamente tirar as pessoas das situações de vulnerabilidade e risco social;
- uma educação que viabilize o desenvolvimento da vida em sua plenitude para que ninguém mais necessite mendigar o seu pão ou ser vítima de qualquer tipo de violência, tudo isso em conformidade com os valores do evangelho de Jesus Cristo.
- uma lógica econômica que valorize a vida em detrimento do acúmulo desmedido e gerador de desigualdades.
Necessitamos conhecer o que nossos candidatos pensam a respeito desses temas, que atualmente representam clamores de nossa nação, bem como, no caso federal, saber aqueles que se comprometem em realizar as reformas tão necessárias ao país, tais como:
·         A tributária, com o objetivo de fazer justiça social,
·         Política no sentido de banir os maus políticos, para que não vivamos de denúncia em denúncia e de escândalo em escândalo, 
·         administrativa, para que o aparelhamento estatal esteja adequado à capacidade tributária do país, fazendo mais com menos, ou seja, gastando com maior eficiência o erário público arrecadado nas três esferas governamentais.
Se nós metodistas brasileiros quisermos mesmo viver o “Novo Céu e a Nova Terra” de Deus, que se dará com a completa implantação do Reino de Deus aqui na terra temos de nos preocupar com estes temas e estar atentos às propostas que estarão sendo apresentadas neste próximo pleito eleitoral.
Que o nosso voto neste próximo pleito eleitoral seja elemento transformador dos sinais de morte em sinais de vida e vida em abundância, através dos políticos que serão eleitos através de nós, para os quais desde já estamos em oração por todos e todas.

Orientações Pastorais aos metodistas para as eleições de 2010.
Cremos que a Igreja de Cristo no Brasil e notadamente os Metodistas devem ser exemplos a serem seguidos quanto à sua conscientização política e voto consciente, para que tal exemplo possa ser propalado a toda a nação brasileira, onde cada cidadão e cidadã tenham real consciência de seu papel e da importância de seu voto nos momentos de escolha de seus candidatos a cargos eletivos, seja em âmbito municipal, estadual ou federal.

Como cristãos/ãs metodistas, somos chamados a servir à Nação brasileira através de nossa participação ativa na construção de uma sociedade democrática. Queremos ter uma sociedade onde se garanta a participação de todos os setores da sociedade no processo de decisão e nos resultados do desenvolvimento econômico. Assim sendo, entendemos que as eleições de outubro deverão contribuir para a caminhada na direção destes objetivos. Para tanto, conclamamos pastoralmente o povo metodista para o exercício de seu voto consciente, observando as seguintes orientações pastorais:
A. Estudo e discussão dos programas dos diversos partidos políticos procurando identificar aqueles que:
·         Harmonizam-se com os ensinos de nossa Igreja Metodista;
·         Desenvolvem efetivamente sua ação comprometidos com o avanço da democracia brasileira;  e
·         Buscam a construção de uma sociedade mais justa e solidária.

B. Não basta o exame dos programas dos partidos políticos:
·         É necessário o exame da coerência moral e política da trajetória e da história dos candidatos;
·         É importante o reconhecimento dos grupos políticos e econômicos que estão interessados na sua eleição;
·         Através do debate democrático, é imprescindível a identificação dos/as candidatos/as comprometidos/as com as necessidades e aspirações das classes populares, cujas candidaturas sejam a expressão da vontade de setores amplos da população, e que não se tenham candidatos por interesses outros que não o do bem-estar comum;
C. Conhecimento mínimo do processo eleitoral, visando evitar-se toda e qualquer manipulação do voto popular;
D. Conhecimento mínimo das responsabilidades inerentes aos cargos para os quais os candidatos deverão ser eleitos;
E. O voto não deve e não pode, de forma nenhuma, ser vendido ou trocado por favores pessoais a quem quer que seja;
F, A eleição é um momento de ação cidadã fundamental, participação efetiva na vida do país. Não vote em branco, nem anule seu voto. O voto é também uma proposta de organização do país;
G. O/a eleitor/a não deve deixar-se iludir pela utilização massiva dos meios de comunicação. Deve procurar usar, na plenitude, o seu direito de escolha sem se deixar levar pela “onda” da propaganda política, especialmente veiculada através da televisão e do rádio;
H. As dependências das igrejas locais e de nossas institucionais sociais e educacionais poderão servir como espaço para a informação, reflexão e debate das propostas dos candidatos. Este uso do espaço de nossas igrejas deve visar a conscientização do povo das comunidades onde estão localizados os diversos trabalhos metodistas.
Tal uso deverá ser feito sempre de acordo com o Regimento da Igreja, segundo o disposto no Art. 128item XXV (Cânones, Ed. 2007), ou de acordo com os Regimentos de nossas instituições;
I. Deve ser evitado todo pronunciamento dos e sobre candidatos/as no momento do culto público ou de reuniões específicas da própria Igreja, tais como a Escola Dominical (Carta Pastoral “Eleições de 1994”).
J. Ao ministério ordenado da Igreja Metodista cabe, prioritariamente, a tarefa de apoiar e sustentar pastoralmente a ação e a reflexão política dos membros leigos (as). Os pastores e pastoras metodistas devem procurar ajudá-los (as) a concretizar na prática política partidária a mensagem do Reino de Deus e da sua justiça.
K. Os membros do ministério ordenado que se sentirem chamados para a postulação de cargos políticos são instados, por nós, a pedirem licença do ministério ativo. Desta maneira será evitada a partidarização de nossa vida eclesial causada por divergências políticas partidárias envolvendo pastores e pastoras de nossas congregações (Carta Pastoral “Eleições, 1994”).

Conclusão.
O Colégio Episcopal conclama o povo de Deus, chamado Metodista, a unir-se em prol   de uma sociedade mais justa, lembrando que “o propósito de Deus é reconciliar consigo mesmo o ser humano, libertando-o de todas as coisas que o escravizam, concedendo-lhe uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação e poder do Espírito Santo,  a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus” (Plano Vida e Missão, letra b, item4).
No amor de Jesus Cristo que nos une a todos e todas como: “servos e servas de Cristo”, conclamamos a Igreja Metodista a dedicar períodos  de oração e jejum em favor  da Pátria , intercedendo ao Senhor, nos cultos públicos e em outras reuniões, pelas eleições deste ano. Com toda convicção, advinda de nossa fé no único e verdadeiro Deus proclamamos  e declaramos que: “Bem aventurado é o povo cujo  Deus é o Senhor!”

São Paulo, Julho de 2010.

Bispo João Carlos Lopes
Presidente do Colégio Episcopal da Igreja Metodista

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