segunda-feira, 30 de agosto de 2010

PALESTRA NA CATEDRAL: Mordomia Cristã na Igreja e na vida pessoal


Grupo de Louvor - Catedral

Como parte do processo de revitalização de nossa igreja local o Ministério de Ação Docente realizou uma Oficina sobre o tema “Mordomia Cristã na Igreja e na vida pessoal”. Ela aconteceu ontem como parte das atividades matutinas da Catedral (Culto e Escola Dominical).


Celebramos um momento devocional de 30 minutos e logo após a coordenadora do Ministério de Ação Docente, irmã Rinalva Cassiano, apresentou o palestrante, irmão Sérgio Tavares. Nosso irmão, juntamente com sua família, congregou conosco por 26 anos, porém no ano passado, por motivos profissionais mudou-se para São Bernardo do Campo e tem se congregado na Igreja Metodista em Rudge Ramos.


Após a palestra, foi aberto um momento para perguntas e contribuições dos presentes. Várias pessoas participaram deste momento. O irmão Sérgio nos disponibilizou suas anotações e as apresentamos abaixo.

 

Veja as anotações do irmãos Sérgio logo abaixo é só clicar
Mordomia Cristã na Igreja e na vida pessoal

                                               Sérgio Marcus Nogueira Tavares



1. Textos Bíblicos
                                   Salmo 24:1
                                   Lucas 12:42-44; 12:48.
                                   I Timóteo 3:5
                                   I Timóteo 6:7-10
                                  

- Somos mordomos da grandiosa criação divina. Este é um pressuposto básico de mordomia cristã. Se a vida que vivemos não é nossa quanto mais a matéria em geral.

- Fidelidade, prudência, confiança – características do mordomo.

- A mordomia na Igreja: a partir do exemplo da mordomia na própria casa.

- O amor ao dinheiro é condenável. Paulo alerta a Timóteo sobre os perigos da riqueza.

2. Conceito de Mordomia

– Dicionário Michaelis: funções de mordomo; do latim “maior domus” – o maior da casa.

- Mordomo: administrador de uma casa ou de um estabelecimento por conta de outrem.

- A ideia presente no conceito de mordomia é de cuidado, governança, administração, utilização dos recursos existentes com eficiência. Outros princípios presentes quando se exerce a mordomia sobre recursos de terceiros são: fidelidade, lealdade e honestidade no trato do que se tem em mãos.

3. Contexto

- O contexto presente de mordomia em economias de países em desenvolvimento como o Brasil, é o de recursos limitados para atender necessidades maiores do que nossa capacidade existente. Determinados segmentos da população não tem suas necessidades básicas atendidas.

- Na sociedade capitalista prevalece a cultura do consumismo, que cria necessidades de consumo a cada instante. A propaganda sedutora, a conveniência dos shoping, as aparentes promoções, a rápida obsolescência dos produtos e o lançamento constante de substitutos são algumas das estratégias de incentivo ao consumo.

- No caso brasileiro, o melhor exemplo de incentivo ao consumo é o recente crescimento do crédito às classes populares, aos jovens e até aos aposentados, que pela via do empréstimo fácil estimulam o consumo e a gastança descontrolada.

- Outros elementos a considerar no que se refere ao Brasil são: juros muito elevados, carga tributária monstruosa, classe média relativamente pequena (ainda que o sentimento de ser classe média alcance elevada fatia da população);

- Noticias e abordagens recentes que confirmam este contexto:
a) “Crédito fácil estrangula consumidor” – Estado de São Paulo
b) “Brasileiro gasta além do que recebe” – Estado de Minas
c) “Pesquisa mostra que jovens entre 18 e 20 anos estão se endividando” – Bom Dia Brasil 13/07/2010.
d) Blog “O endividado” – tudo sobre o endividamento – orientação jurídica
e) Blog “Amigo rico” – orientações sobre planejamento financeiro pessoal
f) Tópico “Sr. Dinheiro” no Fantástico.

- Nesta rápida abordagem vamos analisar alguns elementos inerentes à mordomia nas seguintes esferas:
a) a mordomia na Igreja
b) a mordomia na vida pessoal e familiar nos seus diferentes momentos ( o jovem e juvenil; o adulto em atividade remunerada e o idoso).

4.    Critérios para a prática de uma boa mordomia

- Pode-se definir que a boa mordomia é alcançar o equilíbrio em duas dimensões: entre bens e direitos em relação às obrigações; entre as receitas e despesas.

a)    Viver com o que se tem.
b)    Valorizar cada R$ 1,00 gasto – austeridade, rigor no gasto. Gaste com a mesma dificuldade que você tem para auferir sua receita.
c)    Planejar as finanças: você conhece os seus números?
d)    Evite o endividamento ou administre-o com critérios.
e)    Criar condição para suportar situações imprevisíveis.

5.    A mordomia na Igreja local

- Como organização religiosa a Igreja tem sua dimensão organizacional e funcional com características singulares.

- É uma instituição que tem um meio físico, atua pelo voluntariado, mas também requer a atividade profissional remunerada, sujeita à legislação trabalhista. É estabelecida e tem obrigações a que toda organização está submetida. Para sua operação tem custos fixos (salários, encargos trabalhistas, aluguel, se for o caso) e variáveis (energia elétrica, água, telefone, materiais de consumo, gastos com eventos, etc).

- Para se manter, a Igreja depende de dízimos, contribuições e outras receitas.

- Como agencia que se propõe a uma atividade missionária, depende de recursos para desenvolver projetos, expandir e alcançar pessoas em diferentes lugares. Seus ministérios e grupos societários dependem de recursos orçamentários anuais para realizar suas atividades que demandam despesas.

- Daí, a administração dos seus recursos é tão importante quanto à de qualquer organização, sob pena de não conseguir manter e não ter a quem recorrer para sua sustentabilidade.

- Sua boa mordomia depende do trabalho competente, qualificado e fiel de seus agentes, no caso, o Ministério de Administração.

- No caso da Igreja Metodista, como parte de uma estrutura mais ampla do que simplesmente a igreja local, esta tem seus compromissos regionais, que por sua vez está vinculada numa estrutura nacional. Isto significa que parte da arrecadação mensal da igreja local é enviada para garantir a manutenção regional. Este é um exemplo de despesa presente no orçamento da igreja local.

- Para bem exercer sua mordomia, é fundamental que a igreja local possa contar com a contribuição regular dos seus membros. O desafio bíblico do dízimo é um grande potencial de missão e de boa mordomia, pois pode ampliar a base de receita e a possibilidade de desenvolvimento de sua ação missionária.

6.    A mordomia na vida pessoal e familiar nos seus diferentes momentos

- Temos diferentes realidades e desafios de mordomia financeira nas várias fases de nossa vida.

a)    Jovens e juvenis

- Ausência de sustento próprio, dependência da “mesada” ou desenvolvimento de atividade eventual ou informal – fonte de recursos limitada e incerta.

- Fase da vida em que o sonho e a ilusão predominam.

- Necessidades específicas do momento de vida: formação (educação formal e outras competências), lazer e programas de grupos.

- O jovem e juvenil devem ser estimulados a administrar sua condição, desenvolvendo sua autonomia nos limites de suas possibilidades e realidade.

- Ter sua própria conta, planejar suas atividades de lazer, definir prioridades e escolhas são atitudes educativas para o exercício da plena mordomia.

- Deve ser acompanhado de perto pelos pais nas decisões que toma e nos equívocos cometidos, numa perspectiva educativa.

b)    Adultos em plena atividade

- É o tempo de vida que se tem para o exercício da plena mordomia.

- Devem ter a noção de que a administração dos seus recursos tem perspectiva de curto, médio e longo prazo, ultrapassando a visão imediatista muito presente na atualidade.

- A valorização de cada R$1,00 disponível implica em saber gastar, negociar preços e prazos, definir prioridades, adiar gastos, planejar investimentos. Valorize também sua fonte de receita. Um bom emprego é como uma pedra preciosa, difícil de ser encontrada.

- Com a incerteza presente no mundo do trabalho, é fundamental desenvolver a capacidade de adaptabilidade a mudanças (emprego, faixa salarial, cidade).

- No contexto da atividade empreendedora que cada vez mais substitui o emprego estável e de longo prazo, a administração dos recursos financeiros e patrimoniais se torna ainda mais complexa, pois nem sempre se pode contar com uma renda fixa e regular.

- Nesse cenário é importante reduzir os custos fixos a um mínimo possível, pois num momento critico, a travessia se torna menos traumática.

- Programar os investimentos mediante poupança evitando os financiamentos onerosos (compra de casa própria, veiculo). Os juros acumulados nessas aquisições multiplicam o valor do bem.

- Aprenda a lidar com o cartão de crédito, o dinheiro de plástico do nosso tempo.

- Em todo gasto, verificar se ele é essencial, necessário ou desejável. A propaganda tem a habilidade de confundir o desejável com o necessário. Precisamos estar atentos a esta diferenciação.

- Conservar os bens adquiridos e não ceder à tentação da troca constante e do descarte fácil. Com os constantes avanços tecnológicos, não há como se manter sempre atualizado.

- Faça um orçamento doméstico e acompanhe o realizado em relação ao que você planejou.

- Agir em equilíbrio é um bom principio de mordomia. Cuide de sua saúde financeira como você cuida da saúde do seu corpo.

c)    Idoso

- Com o crescimento da idade média da população brasileira, que já ultrapassa os 72 anos, é necessário preparar para viver com dignidade nesta fase da vida.

- O Brasil não tem ainda uma política previdenciária adequada que garanta, via aposentadoria, sustento ao idoso capaz de dar conta das necessidades específicas dessa faixa etária. Da mesma forma, a limitação do atendimento público da área da saúde, deixa os idosos fragilizados no momento em que mais precisam de cuidado médico e/ou hospitalar.

- No cenário atual, para manter vida digna e com qualidade mínima, o idoso dependerá de chegar nesta fase da vida com condição financeira capaz de sustentar um padrão de vida básico aliado ao financiamento das despesas específicas deste momento de vida: médico, medicamentos e até mesmo gastos com internações e/ou cirurgias.

- Um bom plano de saúde contratado numa faixa etária mais jovem é um diferencial importante para o idoso.

- Desonerar o idoso da condição de arrimo de família é outra questão fundamental.

- Na mais alta idade, acima de 80 anos, eventualmente o idoso poderá ter que arcar com acompanhantes, profissionais de tempo integral cuja ocupação é crescente no Brasil, o que representa um custo regular significativo.

- A cena de idosos abandonados é resultante da deficiência das políticas públicas e em certa medida, de condições de mordomia inadequadas.

- Alcançar boa mordomia nesta fase da vida depende de uma boa mordomia na idade adulta, inevitavelmente.


7.    Considerações finais

- Mordomia é questão de disciplina pessoal, organizacional e de temor a Deus, quando reconhecemos nossas limitações e buscamos sabedoria divina para lidar com questões eventualmente complexas.

- A mordomia é espaço de solidariedade entre as pessoas, pois cada um de nós tem seus momentos de altos e baixos na vida. Num momento crítico, nada como contar com a ajuda do outro, eventualmente numa questão pequena, mas fundamental.

- Passa pela mordomia a discussão da sustentabilidade do planeta. O consumo descontrolado de energia, o desperdício de água, o não tratamento do lixo, são alguns exemplos da não mordomia. Cuidar do meio ambiente é uma questão de mordomia com a criação.

- A boa mordomia não é um fim em si mesmo, mas um exercício a serviço da construção da vida e do Reino de Deus entre nós.

- No exercício da mordomia, Deus opera em nós e através de nós para a realização da sua vontade. Nem tudo se explica na base da racionalidade financeira, em que pese sua importância na vida moderna.



SBC, agosto/2010


Sergio Marcus Nogueira Tavares
sergio.tavares@metodista.br

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