quinta-feira, 3 de março de 2022

 

SERMÃO

VENCENDO AS TENTAÇÕES - SEGUINDO O EXEMPLO DE CRISTO[i]

TEXTO: Lucas 4:1-13

INTRODUÇÃO:

Exórdio:

Dentre todos os seres, sejam eles vivos ou não vivos, o ser humano é o único capaz de pensar... de refletir... de decidir. Jean-Jacques Rousseau no seu livro, “A origem das desigualdades”, conta uma parábola sobre o pombo e o gato.

 O pombo só sabe ser pombo... só sabe pombear (neologismo). E o gato só sabe ser gato, ou seja, só sabe gatear (neologismo). Eles seguem os instintos. Não refletem... não inovam... não decidem pelo melhor.

Portanto, se dissermos ao pombo que ele deve comer carne, ele morre, mas não come a carne. Ele segue puramente seus instintos.

Da mesma forma, se disser ao gato que deva comer alpiste, ele morre, mas não come. Ele segue seus instintos.

Diferentemente do pombo e do gato, nós seres hu[1]manos (homo sapiens) refletimos, inovamos, decidimos.

 Frente às possibilidades, nós decidimos e escolhemos.

Nós comemos o alpiste (linhaça, chia, centeio, quinoa, etc); comemos a carne (crua, cozida, assada, ao molho, etc); comemos o pombo e comemos o gato.

 Como o ser humano cria possibilidades, ele se defronta com opções. Ele precisa decidir “o que” e “como” irá fazer as coisas. Deve avaliar e decidir qual a melhor forma de viver/fazer as coisas.

 Existe um campo da filosofia que nos ajuda a refletir sobre esta questão: a ÉTICA. Ética, não é uma categorização prévia de condutas certas ou erradas.

 Ética é a inteligência para decidir o melhor no momento das escolhas... no momento das opções... no momento das decisões.

 Os valores que carregamos conosco é quem nos auxilia neste tempo de decisão. São eles quem nos ajudam a definir qual a melhor escolha.

 Explicação:

          Os Evangelhos são um gênero literário específico. Não são biografias helenísticas, não são memórias, não são narrativas helenísticas de milagres. Também, não estamos diante de textos jornalísticos, mas sim de textos catequéticos. Textos didáticos/pedagógicos cuja finalidade maior é ensinar... discipular a comunidade de fé. Seu objetivo é sus[1]citar a fé e fortalece-la (Kümmel).

 O nosso texto é citado nos três evangelhos sinóticos. Sempre após o batismo de Jesus e antes de Jesus iniciar seu ministério público.

 A moldura do nosso texto é o “batismo de Jesus” e sua “genealogia”, ANTES e “início da missão na Galileia” e “pregação no templo, apresentando sua plataforma de trabalho” DEPOIS.

Nossa perícope é um texto/episódio muito rico em símbolos. Traz à memória lições importantes do Primeiro Testamento.

 Por exemplo:

• Cheio do Espírito: O Espírito que se apodera...

• Deserto: Lugar de provação, tentação, mas também lugar onde se experimentou muitas bênçãos de Deus. Local onde o povo de Israel foi forjado;

• Quarenta: Número de anos do povo no deserto, número de dias em que Moisés ficou no monte, número de dias que Elias ficou no monte Horeb;

• Jejum: Prática comum e recomendada;

• Fome: A fome (necessidades fez com que o povo quisesse retornar para o Egito;

• Pão: Maná (sustento de Deus);

• Adorar o deus errado: Bezerro de ouro;

• Se és filho de Deus:

• Está escrito: Jesus cita o Primeiro Testamento. O Diabo também cita, mas só que de forma distorcida. 

Nosso texto narra que após seu batismo e antes de assumir seu ministério público, Jesus é forjado no deserto.

É ali que ele, cheio do Espírito Santo, assume sua linha ministerial. É ali que assume com clareza que tipo de Messias ele será.


Proposição: 

No texto/episódio da TENTAÇÃO, Jesus responde a três dilemas ministeriais. Dilemas estes também enfrentados por nós hoje.

 

DESENVOLVIMENTO:

 

1ª Tentação – 1º Dilema:

Devo usar meus poderes para fins pessoais?

Jesus aqui é apresentado em estado de vulnerabili[1]dade. Ele está com fome. Ele que é verdadeiramente ho[1]mem, vê-se diante de uma necessidade extrema.

Viktor Frankl, pai da logoterapia, ao relatar sobre sua experiência no Campo de Concentração Nazista afirma o seguinte sobre a FOME:

 Face ao estado de extrema subnutrição em que se encontravam os prisioneiros, é compreensível que, entre os instintos primitivos que representam a 'regressão' da vida psicológica no campo, o instinto de alimentação ocupasse o lugar principal. Observemos os prisioneiros de um modo geral quando estão juntos no lugar de trabalho, num momento em que não estão sendo tão rigorosamente vigiados. A primeira coisa de que começam a falar é comida. (Viktor Frankl).

É diante desse quadro de fome, ou seja, necessidade última, que os evangelistas colocam Jesus sendo tentado.

O diabo quer perverter o projeto ministerial de Jesus. Quer fazê-lo abandonar o projeto de Deus de salvar a humanidade, de libertar os cativos e oprimidos, mediante um passe de mágica, utilizando o poder de Deus em benefício próprio.

Jesus reconhece que esta não é a melhor opção. Ele, cheio do Espírito, assume proposta diferente. Baseado nas Escrituras Sagradas, afirma um projeto ministerial que vai mais além do que os bens materiais e o poder decorrente deles.

Hoje, também, somos tentados em nossos ministérios. Em meio as lutas e tribulações que enfrentamos em nosso dia a dia, o tentador parece fazer a mesma afirmação: “Se és filho/a de Deus, por que está passando por esta dificuldade”?

A tentação/sedução apresentada por certa Teologia, onde somos merecedores/as de prosperidade por sermos filhos/as do Rei, tem levado muitos a acreditarem que são especiais.

Nesta visão, o poder é usado para fins pessoais, enriquecimento próprio, prosperidade egoísta. A decisão de Jesus, deve iluminar a nossa decisão hoje. Em meio à tentação, somos exortados a fazer como o

Senhor. Baseados na Palavra e cheios do Espirito Santo, de[1]vemos cumprir nosso ministério em conformidade com os valores do Reino de Deus.

 

2ª Tentação – 2º Dilema:

Devo estabelecer um império poderoso que domina sobre outros?

 

Neste ponto o evangelista Lucas nos apresenta o tema do poder. Aqui o diabo propõem que Jesus realize a sua missão através do poder terreno. Ele afirma que dará a Jesus todo o poder e riqueza do mundo.

Jesus é tentado a deixar sua vocação de servo sofre[1]dor, para assumir de chefe político de estruturas injustas.

Mas a grande questão está em como poderá libertar o povo, se ele se tornará dono das vidas, controlador das liberdades, um opressor?

Para além disso, o texto apresenta uma condição. Se Jesus quisesse assumir este ministério de poder, deveria se curvar diante do próprio diabo e o adorá-lo.

Jesus reconhece que esta não é a melhor opção. Ele, cheio do Espírito e baseado nas Escrituras Sagradas, afirma um projeto ministerial que reconhece o Senhorio de Deus e Seu projeto eterno para com seu ministério terreno.

Ele declarará: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele darás culto”.

Hoje, também, somos tentados/seduzidos por um ministério de poder. A busca por poder e reconhecimento tem levado muitos a abandonar o ministério do serviço e optar pelos caminhos do autoritarismo.

 Exemplos:

 • Você sabe com quem está falando?

• Você não está debaixo da minha autoridade.

• Tal pessoa não tem um coração ensinável.

 

Num mundo onde as pessoas são reconhecidas e valorizadas por aquilo que produzem ou consomem, corremos o risco de assumir um ministério que busca mais os aplausos dos homens que a aprovação de Deus.

O ministério do serviço está em baixa na atualidade.

A função de gestor/a está acima da de cuidador/a.

A ideia de um ministério pastoral eficiente tem estado mais ligado a ações de gestor/a de uma instituição religiosa do que de servo/a, cuidador/a, visitador/a, conselheiro/a.

 O bom pastor, a boa pastora é aquele/a que faz o negócio prosperar, ainda que seguindo padrões e valores nada cristãos.

 A decisão de Jesus, deve iluminar a nossa decisão hoje. Em meio à tentação de sermos poderosos, somos desafiados a seguir o exemplo de Jesus.

 Baseados na Palavra e cheios do Espirito Santo, devemos cumprir nosso ministério em conformidade com os valores do Reino de Deus - o serviço.

 

3ª Tentação – 3º Dilema:

Devo fugir da cruz e assumir um ministério espetacular?

Os evangelistas ao apresentarem esta tentação, estão tocando no tema da morte vicária de Cristo. Aqui o diabo propõem a Jesus, fazer uso indevido do poder de Deus para livrar-se da morte.

 Citando parte do salmo 91, porém tirando-o de seu contexto, ele afirma: “Aos seus anjos ordenarás a teu res[1]peito que te guardem; e: Eles te sustentarão em suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”.

Jesus reconhece que esta não é a melhor opção. Ele, cheio do Espírito e baseado nas Escrituras Sagradas, afirma um projeto ministerial de obediência integral ao propósito de Deus. Ele declara: “Não tentará o Senhor Teu Deus”.

Hoje, também, somos tentados/seduzidos por um ministério espetacular. A aparência é mais importante que a essência. A performance é mais valorizada que o conteúdo.

Na busca pelo espetacular que agrada aos consumidores de nosso ministério, corremos o risco de negar a cruz.

Numa sociedade hedonista, onde se deseja o prazer a qualquer custo, somos tentados a responder às expectativas dos outros, promovendo um ministério espetacular.

A decisão de Jesus, deve iluminar a nossa decisão hoje. Em meio à tentação de vivermos um ministério espetacular, que nega o sofrimento e a morte, somos desafiados a seguir o exemplo de Jesus, que optou por cumprir seu ministério cabalmente.

Baseados na Palavra e cheios do Espirito Santo, devemos cumprir nosso ministério em conformidade com os valores do Reino de Deus.

 

CONCLUSÃO: 

Diante das TENTAÇÕES NOSSA DE CADA DIA somos desafiados/as a seguir o exemplo de Jesus. Diante das propostas do diabo de perverter o projeto divino, Jesus cheio do Espírito Santo e baseado nas Escrituras Sagradas, faz sua escolha.

Faz-se necessário sermos cheios do Espírito Santo e conhecedores da Palavra de Deus, se desejamos vencer as tentações tal como Jesus.

Para tal, uma das possibilidades é investirmos mais tempo no ÓCIO e menos tempo no NEGÓCIO. ÓCIO do latim (ocium) é o mesmo que a palavra scolé do grego. Ou seja, tempo livre para pensar. Tempo produtivo de reflexão... de introspecção... de avaliação.

O contrário de OCIUM é nec-OCIUM... não ócio. Ou seja, sem tempo livre para pensar... refletir.

Às vezes estamos tão envolvidos em nossas ações ministeriais, ou seja, no NEGÓCIO ministerial que não investimos tempo no ÓCIO.

A Quaresma é um tempo oportuno de investirmos no ÓCIO. Tempo oportuno para o exercício da PRÁXIS ministerial, ou seja, ação refletida.

Que nossa Quaresma seja libertadora.

Que esta seja uma oração de dedicação, onde nos comprometemos com uma espiritualidade encarnada tal como a de Jesus.

Que Deus no ajude.



[i] Sermão proferido pelo Professor Paulo Dias Nogueira no culto comunitário da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo no dia 13 de março de 2019 – períodos matutino e noturno. Culto referente ao 2° Dom de Quaresma – Ano C.

 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

DA BELEZA DA QUARESMEIRA À IMPORTÂNCIA DA QUARESMA


Paulo Dias Nogueira

Mudei-me para uma nova casa. Nela tem muitas árvores plantadas. Porém, a mais bela e que enfeita a frente está plantada no terreno do vizinho. Trata-se de uma QUARESMEIRA. Ainda que esteja plantada no terreno ao lado, seus galhos, folhas e flores invadem o meu quintal.

Ela está toda florida e espalha beleza, bem como muitas flores pelo quintal. Na realidade, forma um grande tapete de pétalas no caminho rumo a garagem. Tudo bem que dá trabalho limpar o quintal, mas mesmo assim é maravilhoso contemplá-la.

A quaresmeira é uma árvore brasileira, nativa da Mata Atlântica. Seu nome científico é Tibouchina granulosa, mas é conhecida popularmente por este nome, devido a época de floração: janeiro-abril, ou seja período da quaresma. Ela floresce, também, entre os meses de junho e agosto. Porém, o nome está ligado à primeira florada.

Contemplando a beleza da árvore, lembrei-me que estamos próximos ao início da quaresma. Este é um tempo litúrgico muito rico em espiritualidade. Infelizmente, muitos não conhecendo a história, acreditam que o Período Litúrgico da Quaresma foi inventado para que as pessoas se redimissem de suas falhas e exageros no tempo do carnaval. Isto não é verdade. Por outro lado, nós evangélicos/protestantes/crentes (seja qual for a nomenclatura que você utilize) por falta de conhecimento e até mesmo por preconceito ao catolicismo, perdemos a oportunidade de experimentar com maior profundidade este momento litúrgico impar proporcionado pelo Calendário Cristão.

Vejamos um pouco da história.

A proposta de se preparar melhor para a celebração da maior festa do cristianismo, a PÁSCOA, é algo muito antigo, que antecede a qualquer divisão entre catolicismo e protestantismo. Isto já era comum entre as comunidades cristãs primitivas, que realizavam uma reunião no primeiro dia de cada semana (domingo – Dia do Senhor) para se celebrar a memória de Jesus Cristo (Santa Ceia). Devemos nos lembrar que o Culto Cristão nasceu em torno dessa “Páscoa Semanal”.

Por volta do século II, influenciados pelo judaísmo, os cristãos passaram a celebrar a Páscoa anualmente. No século III iniciou-se a tradição de se reviver a última semana de Jesus (Semana Santa), antes de se celebrar a Páscoa. Mas foi no século IV, que a igreja elaborou um período mais longo de preparação para esta festa (Páscoa). Inspirados no valor simbólico do número quarenta (40 anos no deserto, 40 dias de Moisés no Monte Sinai, 40 dias das andanças de Elias até a montanha de Deus, 40 dias que Jesus jejuou no deserto), a igreja assumiu os quarenta dias que precedem a Semana Santa como um momento especial de preparação. Momento oportuno para reflexão, confissão e jejum.

Porém, a partir do século XI, surgiram algumas festas nos dias que antecediam à quarta-feira de cinzas com o intuito de promover os prazeres da carne, já que passariam por um período longo de jejum e abstinências se preparando para páscoa. Daí, a palavra "carnaval", sendo que "carnis" do latim carne e "levales" prazeres.

É importante se destacar que não foi a quarta-feira de cinzas ou a quaresma que surgiram por causa do carnaval, mas sim a festa do carnaval por causa da quaresma. Os quarenta dias de preparação para a Páscoa, ainda que seja um tempo de introspecção, não deve ser transformado num período de contemplação alienante. Deve-se tomar cuidado para não transformá-lo numa experiência de arrependimento superficial, como fazem muitos que apenas não comem carne ou não cortam o cabelo. Este deve ser, sobretudo, um período radical de vivência com o Senhor.

À luz das palavras do profeta Miquéias, podemos melhor compreender o sentido do período Quaresmal. Miquéias fala ao povo em tom de restauração da aliança. Ele cobra atitudes práticas do povo e nega a possibilidade dessas atitudes serem apenas ritualísticas. O que Deus quer do Seu povo são atitudes de vida. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, se não que pratique a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus.” (Mq 6:8).

A Quaresma é o período, no calendário cristão, em que o Povo de Deus busca arrepender-se de suas faltas e pecados, porém não se esquecendo do que o Senhor nos ordena - que nossa espiritualidade ultrapasse a mera contemplação e desemboque em atitudes práticas para a promoção da vida. Vários outros profetas e escritores bíblicos, bem como, o próprio Senhor Jesus Cristo mostrou este caminho. “Porque vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino do Céus” (Mt 5:20).

Assim como nos preparamos para uma grande festa de aniversário ou casamento, somos convidados nestes 40 dias que antecedem a Semana Santa a nos preparar física, emocional e espiritualmente para celebrar a ressurreição de nosso Senhor. A Quaresma não é uma propriedade do catolicismo, mas sim de todos os cristãos que afinados à tradição dos primeiros séculos, superam todo o preconceito para orar, jejuar e se preparar para a PÁSCOA. Nossa Quaresma não é porque excedemos numa festa popular, mas sim, porque reconhecemos nossas limitações e mazelas e queremos nos santificar em Cristo Jesus, aquele que ressurgiu dos mortos.

Desejo através deste texto fazer-lhe um convite especial. Convido-o/a a preparar-se para a preparação da maior festa do cristianismo. Ou seja, preparar-se para iniciar o período quaresmal deste ano (06/03 – quarta-feira) com um propósito claro de usufruir da espiritualidade deste tempo litúrgico. Prepare-se para iniciar o período de preparação da Festa da Ressurreição – PÁSCOA. O período da Quaresma é um tempo oportuno de arrependimento, conversão e mudança de vida.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

PAPAI NOEL: reflexões de um PAISTOR evangélico

Quarta-feira passada eu estava passeando com minha filha no Shopping em Indaiatuba (SP) e perguntei para ela se não iria tirar foto com o Papai Noel, assim como faziamos em anos anteriores. Ela que está com 9 anos de idade, fez uma carinha de soberba e me disse: Papai Noel não existe. Aí eu disse: Mas já existiu. Ela exclamou: verdade! Eu disse: verdade. Vou contar a história para você. Ela ficou atenta a todos os detalhes da história. No final ela disse: Que legal essa história papai.

Este fato me levou a refletir um pouco mais sobre a lenda do Papai Noel e quero dividir aqui com você. Vou apresentar numa linguagem adulta, mas quando contei para a minha filha dei a entonação de história infantil.

Mesmo sabendo que a verdadeira história do natal é o nascimento de Jesus Cristo, aproveitei-me dessa lenda tão explorada pela mídia para alegrar minha filha. Aliás, há uma distorção muito grande com relação à figura do "bom velhinho" promovida pela cultura de consumo. A origem dessa história é muito bonita, pois trata-se do testemunho de um cristão generoso que costumava ajudar ao próximo.

Segundo os estudiosos a figura do Papai Noel foi inspirada no Bispo Nicolau (280 d. C.) da Turquia. Ele era um homem de bom coração que costumava ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas próximas às chaminés das casas. Foi na Alemanha que associaram sua figura ao Natal. Depois a ideia espalhou-se por todo o mundo. Nos Estados Unidos passou a ser chamado de Santa Claus e no Brasil de Papai Noel.


Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem para o bom velhinho. A roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto, criada por Nast foi apresentada na revista Harper’s Weeklys neste mesmo ano. Em 1931, uma campanha publicitária da Coca-Cola mostrou o Papai Noel com o mesmo figurino criado por Nast, que também eram as cores do refrigerante. A campanha publicitária fez um grande sucesso, ajudando a espalhar a nova imagem do Papai Noel pelo mundo.

Segundo a lenda ele mora no Polo Norte e, com seu trenó, puxado por renas, visita todas as casas durante as festas natalinas trazendo presentes. Mais do que demonizar esta lenda, podemos ir à sua raiz. Falar sobre a solidariedade e generosidade do bom velhinho. Na realidade, um líder da igreja que cheio da graça de Deus auxiliava as famílias mais necessitadas. Apesar da beleza da roupa vermelha, do cinto preto e do trenó puxado por renas, precisamos humanizar um pouco mais a figura do bom velhinho, lembrando que ele era um bispo dedicado à igreja de Cristo.

Portanto neste natal, não perca a oportunidade de ensinar sobre o nascimento de Jesus, o Salvador do mundo. Se nossas crianças te perguntar sobre o Papai Noel, conte histórias ligadas à solidariedade e generosidade, baseada no exemplo do Bispo Nicolau, um verdadeiro bom velhinho... um homem que verdadeiramente existiu.

Meu desejo é que tenhamos uma postura de equilíbrio. Não devemos demonizar a ideia de Papai Noel, bem como também, enaltecê-la esquecendo-se da verdadeira história do Natal, o nascimento de Jesus.

Como pai, tenho ensinado a história de Jesus para minha filhinha. Porém, não quero privá-la de algumas fábulas próprias da infância. Por isso, procurarei auxiliá-la da melhor forma possível em sua compreensão da mesma.


Desejo a todos um Feliz Natal!

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

RUMO AOS 500 ANOS - Reforma Protestante

Povo sem tradição morre a cada geração

Hoje, 31 de outubro, completa 499 anos que Martinho Lutero pregou as suas, hoje famosas, 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg. 

Sou pastor metodista, formado em Teologia e tive a oportunidade de também cursar a faculdade de História (licenciatura). Gosto muito de valorizar datas e eventos históricos através de reflexões pastorais, sermões e celebração cúlticas. Apesar da Igreja Metodista não ter participado deste movimento (séc. XVI), ela assumiu sua teologia desde o princípio (séc. XVIII).

Aproveitando o ensejo, apresento um brevíssimo histórico do Protestantismo, da origem à sua inclusão no território brasileiro. Este não é um texto acadêmico, mas uma partilha com os interessados em conhecer um pouco mais da história da Reforma Protestante e do Protestantismo Brasileiro.

Caminhamos rumo aos 500 anos deste movimento que em seus avanços e retrocessos gerou muitos frutos. 


Um pouco de história
Reforma Religiosa do século XVI

No século XVI era comum afixarem-se opiniões para debate em locais públicos para que os interessados tomassem conhecimento do assunto. Quando Lutero apresentou suas teses contra as indulgências ele estava agindo dentro da normalidade de seu tempo. Foi graças à invenção de Gutenberg - prensa com tipos móveis – que estas teses, bem como as idéias de Lutero foram divulgadas com rapidez por toda a Alemanha, iniciando assim um movimento que marcaria para sempre a história da igreja cristã – REFORMA RELIGIOSA (Protestantismo).

Nas 95 Teses Lutero afirmava que as indulgências não tinham poder para perdoar pecados e livrar almas da condenação; contestava o poder da Igreja como mediadora entre os fiéis e Deus; e assegurava que todos que se arrependessem eram remidos de seus pecados pela fé em Cristo, através da graça.  Ele não imaginava que sua convocação para debater estas teses se tornaria um movimento tão grande que abalaria as estruturas da igreja oficial.

Antes de Lutero muitas outras pessoas e movimentos contestaram os rumos da igreja, porém o momento histórico não lhes permitiu implementar inovações. Pode-se destacar entre eles os PRÉ-REFORMADORES John Wycliff (1325-1384) e John Huss (1372-1415). Ambos foram condenados pela igreja oficial como hereges.

Depois de Lutero (Alemanha), surgiram outros movimentos religiosos com o mesmo intuito, reformar a igreja cristã. Calvino em Genebra e Ziínglio em Zurique (Tradição Reformada); Simons em Zurique (Movimento Anabatista – Reforma Redical); e Henrique VIII na Inglaterra (Anglicanismo). Numa pesquisa mais apurada pode-se encontrar mais movimentos, mas para a finalidade deste texto os mencionados já basta.

Verifica-se que diferentemente da tradição católica, que apesar de sua diversidade conseguiu manter certa unidade institucional, o protestantismo que surgiu da Reforma do século XVI gerou várias tradições e instituições. Portanto, o correto é falar-se “protestantismos”, e não “protestantismo”.

Protestantismo Brasileiro

Ao abordar o “protestantismo brasileiro”, nos deparamos com uma questão mais complexa ainda, pois se verifica a implantação de várias tradições e instituições, em momentos históricos diferentes.

Primeiramente pode-se destacar duas tentativas fracassadas de inserção do protestantismo no território brasileiro: os franceses (1555 a 1560) no Rio de Janeiro e os holandeses (1630 a 1654) no nordeste.

Somente no início do século XIX a tradição protestante inseriu-se de forma definitiva no Brasil. Segundo Mendonça, pode-se falar de protestantismo de imigração, protestantismo de missão e pentecostalismo/neopentecostalismo.

Protestantismo de Imigração: Em decorrência da abertura dos portos brasileiros aos países amigos de Portugal (1808) e do incentivo do governo à imigração européia, chegaram ao Brasil luteranos, anglicanos e episcopais. Com o tratado de comércio e navegação firmado entre Portugal e Inglaterra (1810) concedeu-se aos ingleses a liberdade de culto e tolerância religiosa a outros grupos não-católicos residentes no Brasil. Este é o início do culto protestante no Brasil. Estas tradições protestantes não influenciaram e nem promoveram impactos na sociedade brasileira, pois seu objetivo era unicamente dar continuidade à tradição denominacional, sem fins missionários.

Protestantismo de Missão: Somente após 1850, com a chegada de missionários protestantes advindos da América do Norte com o objetivo de implantar suas missões, que o protestantismo causou um certo impacto na sociedade brasileira. É neste momento que instalam-se no Brasil as igrejas: Congregacional, Presbiteriana, Metodista, Batista e Episcopal. Segundo Mendonça este movimento deve ser chamado de Protestantismo de Missão. Não reconhecendo o trabalho missionário promovido pelo catolicismo, estas denominações chegaram ao Brasil com um objetivo claro de pregar a fé protestante/evangélica.

Pentecostalismo e Neopentecostalismo: É possível dividir o movimento pentecostal e neopentecostal brasileiro em pelo menos três grupos diferentes: (a) Décadas 1910-1940: chegada simultânea da Congregação Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus, que dominam o campo por 40 anos; (b) Décadas 1950-1960: campo pentecostal se fragmenta, surgem novos grupos – Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo e Deus é Amor; (c) Anos 70 até os dias atuais: neopentecostalismo – Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e muitos outros movimentos.

Assim como vimos que foram vários os movimentos de reforma da igreja que foram incluídos na chamada Reforma Protestante, vemos também que é impossível falar-se de Protestantismo Brasileiro. O correto é afirmar que existem varias tradições protestantes no Brasil. Portanto, “Protestantismos” brasileiro.

Outro ponto curioso com respeito ao movimento protestante no Brasil está ligado ao campo da conceituação de alguns termos. Há questões de ordem semântica, bem como de fundo histórico que precisam ser compreendidas.

Ao perguntar a uma pessoa, seja ela cristã ou não, qual a diferença entre cristão, protestante, evangélico e crente, receberemos definições as mais variadas possíveis. Alguns enfatizarão algumas diferenças, outros dirão que trata-se da mesma coisa.

Apresento aqui alguns apontamentos, baseado no texto de Mendonça (MENDONÇA & VELASQUES, 1990, p. 13-16) que podem nos ajudar nesta compreensão.

Segundo o Prof. Mendonça, enquanto na Europa e nos Estados Unidos os cristãos não-católicos se auto-identificam como cristãos, sendo secundária a identificação pelo ramo a que pertencem, no Brasil, assim com o em toda a América Latina, a auto identificação protestante tem sido complicada. No Brasil, esta questão tem história.

Crente: Esta nomenclatura foi introduzida pelos missionários norte-americanos (protestantismo de missão) para identificar as pessoas que iam aderindo às suas denominações. O crente era aquele que, abandonando suas antigas crenças e práticas religiosas (catolicismo), “convertiam-se” verdadeiramente a Jesus Cristo. Olhando de dentro deste movimento, ser crente era uma honra e um privilégio, porém, olhando de fora este era um estigma.

Evangélico: Termo cunhado pelo movimento evangelical. Este movimento surgiu no início do século XIX na Europa e depois se expandiu para os Estados Unidos. Ele foi uma reação frente expansionismo ultramontanista católico. Diante dessa força católica os protestantes se uniram através de ligas e alianças no propósito de fortalecer alguns princípios doutrinários comuns que os ajudasse a combater esse movimento. Pode-se chamar de uma “frente unida” evangélica. A auto-identificação de “evangélico” era individual e significava o compromisso da pessoa com esse conjunto de princípios doutrinários. Antes do indivíduo pertencer a uma denominação, ele era “evangélico”.

Protestante: Termo utilizado para referir-se ao movimento da Reforma Religiosa ocorrido na Europa do século XVI.

Ainda que estes termos tenham seus significados específicos e um momento histórico definido, Mendonça apresenta a identificação atual dos cristãos não-católicos no Brasil da seguinte forma: O termo “crentes” identifica pentecostais e protestantes tradicionais em regiões rurais; a designação “evangélicos” auto-identifica protestantes tradicionais de regiões urbanas e é preferido pelos “historiadores” dessas denominações; o termo “protestantes”é utilizado por historiadores, teólogos e sociólogos não necessariamente ligados a esses grupos.

Espero ter colaborado um pouquinho com seu conhecimento sobre nossa tradição protestante.

Abraços, Rev. Paulo Dias Nogueira

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PARTILHANDO - ENCONTRO NACIONAL POV-2016

Rev. Paulo Dias Nogueira
Agradeço a Deus pelo momento ímpar que vivemos no último final de semana, 07-09 de outubro, nas dependências da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista em Rudge Ramos, SBCampo-SP. 

Através da parceria entre Faculdade de Teologia, General Board of Higher Education and Ministry, Methodist Global Education Fund for Leardship Development - Latin America e os Seminários Regionais da Igreja Metodista, aconteceu o Encontro Nacional de Capacitação Ministerial para candidatos/as dos Programas de Orientação Vocacional (POV) das Regiões Eclesiásticas da Igreja Metodista.
Pela graça de Deus, me tem sido oportunizado servir como pastor na Igreja Metodista em várias frentes ministeriais. Dentre elas, o Conselho Diretor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista (FATEO) e a direção do Instituto Educacional Metodista Bispo Scilla Franco (IEMBSF). Neste final de semana presenciei a ação da FATEO, abençoando o IEMBSF. Pude ver dos dois lados da moeda. Como é bom ser uma igreja conciliar e cooperadora. 


Rev. David Martínez e Coordenadores(a) do POV Regionais


  

  

  

 

 

 


Parabenizo a todos os responsáveis, que de uma maneira ou outra se envolveu para que este evento acontecesse. De forma especial destaco todo o empenho de nosso irmão Demétrio Soares na coordenação dos trabalhos.

Abaixo, compartilho alguns vídeos, que foram transmitidos em tempo real pelo facebook e que agora foram organizados e editados. Esta é uma singela contribuição para a memória deste abençoado encontro.

Shalom!


Rev David Martínez e Rev Carlos Guilherme
Culto de Abertura

Rev Nicanor Lopes
Processos Acadêmicos

Rev Jonadab de Almeida
Programa de Ações Eclesiásticas e Missionárias


Vitor - Acadêmico de Teologia
Testemunho 1

Gabriela- Acadêmica de Teologia
Testemunho 2

Revda. Fabiana de Oliveira Ferreira
Testemunho 3

Pr. Robson Almeida
Testemunho 4

Rev. Luis Cardoso
Palestra 1

Rev. Luis Cardoso
Palestra 2

Músicas - Pequenos Grupos
Elaboradas e apresentadas como dinâmica do Encontro

Dramatizações - Pequenos Grupos
Elaboradas e apresentadas como dinâmica do Encontro

Culto de Encerramento
Santa Ceia
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