segunda-feira, 21 de março de 2011

SERMÃO DO CULTO MATUTINO: Obediência: aprendendo com Abraão.


INTRODUÇÃO

Hoje, 2º Domingo da Quaresma, as leituras bíblicas propostas pelo Lecionário Cristão são as seguintes:

1ª Leitura: Gênesis 12:1-4a
2ª Leitura: Romanos 4,1-5
Evangelho: Mateus 17,1-9
Salmo: 121

Dentre os textos propostos acima, quero compartilhar sobre Gn 12.1-4ª

COMPARTILHO ABAIXO AS ANOTAÇÕES UTILIZADAS

CLIQUE

 


TEXTO

1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;
2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
4 Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o SENHOR, e Ló foi com ele.


CONTEXTO

O texto que acabamos de ler, faz parte de um bloco maior de textos, cujo, os estudiosos da Bíblia, chamam de “Tradições Patriarcais”. Este bloco maior vai do capítulo 12 até o capítulo 36 do Livro de Gênesis.

Na realidade trata-se de um conjunto de relatos que nas suas origens eram independentes uns dos outros, mas que num determinado momento, foram ajuntados pelo escritor bíblico.

Estes relatos não tinham um caráter de documento histórico. Na verdade eram histórias contadas oralmente por uma geração à outra. O que temos aqui é fruto do trabalho do escritor bíblico, que inspirado por Deus, juntou estas várias tradições e as transformou num texto didático.

O objetivo do texto era teológico e catequético. Desejava fortalecer a fé do Povo de Deus apresentando alguns modelos de vida e de fé. É importante ressaltarmos que o objetivo não era o de descrever jornalisticamente o que aconteceu na época dos patriarcas.

O que se desejava, na verdade, era que o Povo de Israel aprendesse um pouco mais sobre a ação de Deus em sua história e se submetessem à Sua vontade que é eterna.

MENSAGEM

Nos capítulos anteriores, 3 a 11, o autor descreve uma humanidade que escolheu o pecado e que se afastou de Deus. Nos capítulos 12 a 36, ele vai apresentar uma nova abordagem, ou seja, Deus não desistiu dos Homens, Ele deseja salvá-los.

Para cumprir este Seu desejo, Deus irá escolher um homem no meio de uma multidão de nações. Deus vai eleger a Abraão para dar início ao Seu projeto de restauração do homem.

Esta “eleição” não é um privilégio, mas um convite a realizar uma tarefa muito difícil: ser um sinal de Deus no meio dos homens. O tema central do nosso texto é a interpelação de Deus a Abraão.

Segundo esta tradição Deus chamou Abraão, convocou-o a deixar a sua terra e a sua família e a partir ao encontro de uma outra terra. Ligado a este convite, aparece uma bênção e a promessa de que a família de Abraão se tornará uma grande nação.

Como é que Abraão reage a este chamado?

É preciso levar em conta que, para os antigos, abandonar a terra (que é o horizonte natural onde o clã vive e onde tem as suas referências – inclusive em termos de paisagem), a pátria (isto é, o espaço onde o clã encontra o afeto e a solidariedade e, além disso, o seu espaço protegido por usos, leis e costumes) e a família (o círculo mais íntimo, onde o homem encontra o apoio e o seu complemento), não era um projeto que se buscava, pelo contrário ninguém gostaria de seguir este caminho.

Abraão, porém, foi capaz de arriscar tudo, deixando de lado aquilo que os homens diziam ser seguro, para cumprir o chamado de Deus. Abraão reconhece que a verdadeira segurança está em cumprir a vontade de Deus.

Com muita mestria, o escritor bíblico se limita a descrever a seqüência dos acontecimentos, colocando as ações de Abraão como sendo sua resposta. O patriarca, simplesmente, pôs-se a caminho.

Isto é uma questão que me chama muito a atenção. Abraão não argumenta. O escritor bíblico vai colocar a resposta de Abraão, não como discurso, mas sim como atitude de obediência. Abraão não fala nada, simplesmente “põem-se a caminho”.

É muito interessante entendermos o verbo “yalak” utilizado no versículo 4.

ILUSTRAÇÃO

Houve uma novela da Globo, que relatava um pouco da história e da fé dos árabes no Marrocos. Aquela que tinha a “Jade” – personagem que gerou moda na época. Dentre algumas palavrinhas árabes repetidas durante a novela, tinha a expressão “yalak”.

Esta palavra me marcou muito, porque o meu professor de hebraico, o Rev. Aroldo Barbosa, havia morado durante alguns anos em Israel.

No decorrer das aulas, quando ele queria que fossemos mais rápidos em alguma questão, ou quando ele queria que apressássemos o pé para chegar mais rápido à sala de aula, ele dizia: “yalak, yalak, yalak”, ou seja, vamos, andem, depressa...

A palavra Yalak, significa: “ir”, “partir”, “pôr-se a caminho”) tem uma força extraordinária e expressa a audácia do crente que é capaz de arriscar tudo, de deixar o seguro para apostar em algo que não é certo, confiando apenas na Palavra de Deus. Trata-se de um desprendimento maravilhoso, que define uma atitude de fé radical, de confiança total, de obediência incondicional aos desígnios de Deus.

Esta é uma das passagens onde o que se conta de Abraão tem um valor de modelo: o autor pretende ensinar ao restante do Povo a obediência irrestrita às propostas de Deus.

O que também nos chama a atenção no texto, é que Deus se compromete com Abraão e lhe faz uma promessa. Uma promessa de bênção.

Na promessa aqui formulada, a bênção se concretiza com a multiplicação da descendência de Abraão – ela será numerosa: “De ti farei uma grande nação”.

Particularmente importante, neste contexto da promessa é a idéia de que o Povo nascido de Abraão será uma fonte de bênção para todas as nações. É aqui que se inaugura a idéia de que Israel é o centro do mundo e de que a sua “vocação” é ser testemunha da salvação de Deus diante de todos os povos da terra.

Acredito que seja importante esclarecermos algo: Esta escolha, não se trata de um privilégio concedido a Israel, mas sim de uma responsabilidade dada por Deus.


APLICAÇÃO PASTORAL

Vejamos algumas lições que podemos aprender através desse pequenino trecho da Palavra de Deus:

Abraão foi um homem que ao encontrar-se com Deus, esteve atento aos Seus sinais e soube interpretá-los. Foi alguém que respondeu aos desafios do SENHOR com uma obediência total e irrestrita.

Este homem (Abraão) é um contraste do homem moderno (ou pós-moderno – dependendo de nosso referencial teórico) que nunca tem tempo para encontrar Deus, nem para perceber os seus sinais, pois está sempre muito ocupado, tentando ganhar dinheiro ou construir sua carreira profissional.

Algumas questões que podemos levantar:

Temos dedicado tempo para nos encontrarmos com Deus, para aprofundar a comunhão com Ele?

Preocupamo-nos em detectar a sua presença, as suas indicações e os seus sinais para o nosso dia a dia?

A nossa resposta aos seus desafios é um “sim” incondicional, ou é uma procura de razões para justificar os nossos pontos de vista e esquemas pessoais?

A figura de Abraão questiona, também, aquele que se sente instalado e acomodado. Aquele que prefere apostar na segurança do que já tem, ao invés de arriscar na novidade de Deus.

Outras questões que podemos levantar:

Estamos disposto a mudar, a “pôr-nos a caminho” (yalak), a irmos em direção à vontade de Deus, ou preferimos continuar prisioneiros dos nossos conceitos e preconceitos, dos nossos esquemas pré-concebidos, dos nossos medos, dos nossos hábitos, do nosso jeito de pensar, de agir e de julgar os outros?

Este texto também nos ensina que por detrás da história da humanidade há um Deus que tem um projeto de salvação para os homens e para o mundo, e que esse projeto é de amor e de salvação.

Apesar dos homens o ignorarem, Deus continua a vir ao seu encontro, para desafiá-los a caminhar em direção a uma nova vida.

Que neste período da Quaresma, possamos refletir sobre a vida de Abraão, e seguir o seu exemplo.

Sejamos nós também, homens e mulheres obedientes à vontade de Deus. Que quando o Senhor disser “yalak”, possamos seguir sem questionar. Que possamos obedecer de forma total e irrestrita.

Que Deus nos abençoe!

Rev. Paulo Dias Nogueira
Catedral Metodista de Piracicaba
20 de março de 2011




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