Ontem, no culto vespertino da Catedral Metodista de Piracicaba, aproveitando a proximidade da passagem do ano, preguei sobre uma das várias experiências vividas pelo povo de Deus quando caminharam pelo deserto, rumo à terra prometida. O que eles aprenderam com esta experiência é que Deus sempre está presente e pode auxiliar nos momentos mais difíceis da caminhada. Pode até mesmo ensiná-los a sobreviver no deserto, retirando água de pedras.
Aproveito para compartilhar com aqueles e aquelas que gostam de se aprofundar no conhecimento da Palavra de Deus, alguns subsídios homiléticos e hermenêuticos que descobri na preparação e utilizei na pregação.
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TEXTO: Ex 17,1-7
Tendo partido toda a congregação dos filhos de Israel do deserto de Sim, fazendo suas paradas, segundo o mandamento do SENHOR, acamparam-se em Refidim; e não havia ali água para o povo beber. Contendeu, pois, o povo com Moisés e disse: Dá-nos água para beber. Respondeu-lhes Moisés: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao SENHOR?Tendo aí o povo sede de água, murmurou contra Moisés e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós, a nossos filhos e aos nossos rebanhos?Então, clamou Moisés ao SENHOR: Que farei a este povo? Só lhe resta apedrejar-me. Respondeu o SENHOR a Moisés: Passa adiante do povo e toma contigo alguns dos anciãos de Israel, leva contigo em mão o bordão com que feriste o rio e vai.Eis que estarei ali diante de ti sobre a rocha em Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água, e o povo beberá. Moisés assim o fez na presença dos anciãos de Israel.E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós ou não?
CONTEXTO
Vamos entender um pouquinho o contexto.
Ao estudarmos os primeiros livros da Bíblia, nos deparamos com a existência de várias tradições orais, que num determinado tempo foram juntadas e receberam um formato de livro. Um exemplo são as histórias de Abraão, Isaque e Jacó, que fazem parte das “Tradições Patriarcais”.
Nosso texto faz parte de um bloco de “Tradições sobre a libertação”.
Na realidade é um conjunto de relatos sobre a libertação, que originalmente eram independentes uns dos outros, mas que num determinado momento da história, foram ajuntados pelo escritor bíblico.
O nosso texto, faz parte desse bloco de tradições que narram a libertação dos hebreus do Egito e a caminhada pelo deserto até o Monte Sinai.
A questão fundamental, apresentada no texto é a sobrevivência no deserto do Sinai.
Os beduínos conheciam diversos “truques” que lhes asseguravam a sobrevivência no deserto. Um desses “truques” pode se relacionar muito bem com este texto.
A própria ciência comprova que existe no deserto do Sinai, algumas rochas porosas que, quando quebradas em determinados lugares, elas permitem o aproveitamento da água que ficou ali armazenada.
Alguém pode perguntar: Será que foi isso que aconteceu naquela hora? Simplesmente retiraram a água que estava parada na rocha?
Gostaria de dizer que isso seja muito possível. Mas o nosso foco, ao estudarmos a fé desse povo, não deve ser este.
O importante é que Israel viu nesse fato um sinal da presença e do amor do Deus libertador. Do Deus que vem ao seu encontro e lhe dá a água que gera vida no momento do deserto escaldante.
Às vezes gostamos de falar do extraordinário. Achamos que o milagre de Deus se dá somente quando algo estupendo acontece. Mas o que vemos aqui, é que Israel reconheceu neste ato simples de tirar a água da pedra porosa, algo comum aos beduínos, uma manifestação do agir de Deus em seu favor.
Portanto, é importante entendermos que o objetivo do texto é fortalecer a fé de Israel lembrando-lhe que no passado Deus interviera em sua história, e o sustentara nos momentos mais críticos. A providência da água no deserto do Sinai fora uma delas.
É importante ressaltar que o objetivo do escritor que reuniu todas estas tradições sobre a libertação, não era o de descrever jornalisticamente o que aconteceu na caminhada pelo deserto.
O que ele desejava, na realidade, era que o Povo de Israel aprendesse um pouco mais sobre a ação de Deus em sua história e compreendesse que o Seu Deus nunca os abandonou, e que jamais os abandonaria.
MENSAGEM
Este relato bíblico serve como um modelo. Ele, na realidade, representa todos os contra tempos e dificuldades que o Povo de Deus enfrentou na caminhada pelo deserto.
Desde que o Povo fugiu do Egito, até chegar a este lugar, chamado pelo autor, de Massa/Meribá, Deus manifestou, de várias formas, o seu amor por Israel:
No episódio da passagem do mar (cf. Ex 14,15-31)...
No episódio da água amarga transformada em água doce (cf. Ex 15,22-27)...
No episódio do maná e das codornizes (cf. Ex 16,1-20)...
Em todos eles, Deus mostrou o seu empenho em conduzir o seu Povo para a liberdade e em transformar a experiência de morte numa experiência de vida.
Deus mostrou, sem margem de dúvidas, que sempre esteve empenhado na salvação do seu Povo.
Depois dessas experiências, Israel não deveria ter qualquer dúvida sobre a ação salvadora de Deus e sobre o seu projeto de libertação.
Mas. porém, contudo, entretanto... não foi isso que aconteceu.
Diante das dificuldades da caminhada, o Povo esqueceu tudo o que o Senhor havia feito, e manifestaram dúvidas com respeito aos objetivos de Deus.
A falta de confiança em Deus (“o Senhor está ou não no meio de nós?” - vers. 7) conduz ao desespero e à revolta.
O Povo entra em contenda com Moisés.
A palavra “meribá” vem de uma raiz (“rib”) que significa: “entrar em contenda”.
A palavra “massa” vem de uma raíz (“nsh”) que significa: “tentar”, no sentido de “provocar”.
O local onde tudo isso aconteceu ficou conhecido por estes nomes, porque ali o povo acusou Deus de ter um projeto de morte, apesar de Ele, tantas vezes, ter demonstrado que o seu projeto era de vida e vida plena.
Mesmo, depois de tantas provas, Israel ainda não havia experimentado uma verdadeira experiência de fé: não havia aprendido a confiar em Deus e a se entregar em Suas mãos.
Como é então que o Senhor vai reagir à ingratidão e à falta de confiança do seu Povo?
Ele reage com “paciência divina”. Ele responde mais uma vez às necessidades do seu Povo, oferecendo a água que dá vida.
À pergunta do Povo: “o Senhor está ou não no meio de nós?”, Deus se manifesta no meio deles, e lhes concede bênçãos.
Assim, o povo deve aprender que o Senhor é Deus, e está sempre presente na caminhada do seu Povo lhe oferecendo vida e salvação.
APLICAÇÃO PASTORAL
Vejamos algumas lições que podemos aprender através desse pequenino trecho da Palavra de Deus:
Todos nós experimentamos diariamente o cuidado e proteção de Deus. No entanto, há momentos na travessia do “deserto da vida”, que experimentamos lutas, sofrimentos e desencantos, que nos fazem duvidar da bondade, do cuidado, do amor e da companhia desse Deus Maravilhoso.
No entanto, este texto bíblico, nos garante que Deus nunca abandona o seu Povo.
Ele está ao nosso lado em toda e qualquer situação. Seja na Terra Prometida, usufruindo o leite e o mel, ou no Deserto, experimentando o Sol escaldante das lutas diárias.
Em todos os momentos, Deus está conosco e nos oferece, gratuitamente, a água que mata a nossa sede.
Como nos afirma Agostinho, em uma de suas orações: “Tu nos criastes para Ti, e nossa alma não encontra Paz enquanto não descansar em Ti”.
Somente Deus pode nos dessedentar da sede de Vida.
Ele sempre esteve, está e estará disposto a realizar um milagre para que nós possamos sobreviver no deserto do dia a dia.
Seu desejo é que tenhamos vida, e vida em abundância.
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