INTRODUÇÃO:
Conforme tenho compartilhado nos últimos domingos, estamos vivendo, segundo o Calendário Litúrgico Cristão, o primeiro período do Tempo Comum. Hoje em especial é o 5ª domingo após a epifania, tempo em que a igreja reflete sobre a manifestação de Cristo ao mundo e a chegada do Reino de Deus.
Domingo passado, compartilhei o texto de Mt 5, 1-12, onde intitulei o sermão de: As Bem Aventuranças. Hoje, convido-os a...
continuar refletindo sobre o sermão da Montanha, prosseguindo a leitura do texto sagrado: Mateus 5:13 a 16. Vejamos o que nos diz o texto sagrado:
continuar refletindo sobre o sermão da Montanha, prosseguindo a leitura do texto sagrado: Mateus 5:13 a 16. Vejamos o que nos diz o texto sagrado:
TEXTO: Mt 5,13-16
13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte;
15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa.
16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.
CONTEXTO
Como vimos na semana passada, uma característica do Evangelho de Mateus é a importância que ele dá aos “ditos” (logias) de Jesus.
Ao longo do Evangelho aparecem cinco longos discursos de Jesus: 1º) capítulos 5 a 7 – Sermão da Montanha; 2º) capitulo 10 – Ensinamentos sobre a Missão; 3º) capítulo 13 – Ensinamentos em forma de Parábolas; 4º) capitulo 18 – Ensinamentos sobre o Perdão, e 5º) capítulos 24 e 25 – Sermão Escatológico.
Provavelmente Mateus visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei de Moisés.
O primeiro discurso é conhecido como o “Sermão da Montanha” (Mt 5-7).
Agrupa um conjunto de “ditos” de Jesus, que Mateus colecionou com a intenção de proporcionar aos seus leitores uma série de ensinamentos básicos para a vida cristã.
Seu desejo era oferecer à comunidade cristã um novo código de ética, uma nova Lei. Algo que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de Deus.
Ele situa este episódio em cima de uma montanha.
Como compartilhei na semana passada, o apontamento geográfico não é inocente: ele transporta-nos para o Monte Sinai. Lugar onde Deus se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei.
Agora é Jesus, que também, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.
Provavelmente, estes ditos apresentados nos capítulos 5-7 do Evangelho de Mateus, tenham sido proferidos em momentos diferentes e em lugares dos mais diversos, mas por uma questão pedagógica, Mateus irá reuni-los num só discurso.
Seu objetivo era ensinar sua comunidade. Ele não era um jornalista preocupado com a notícia. Seu objetivo era maior. Queria ensinar à comunidade cristã do primeiro século os valores do Reino de Deus.
Por isso, é que ele compõe o seu Evangelho, procurando facilitar o entendimento de seus leitores.
Precisamos entender que nos primeiros tempos do cristianismo a pregação era feita de duas formas: a proclamação e o Ensino (Querigma e Didaqué)
O Querigma era a pregação missionária aos judeus e aos pagãos. O seu conteúdo era o anúncio do Senhor crucificado, ressuscitado e que voltaria.
A Didaqué era o ensino para os que já haviam se comprometido com o Reino.
O “Sermão da Montanha” é uma compilação de “ditos” de Jesus, feitas por Mateus, para educar a comunidade cristã de sua época, com os valores do Reino de Deus.
É neste contexto que se encontra o nosso texto.
Ele é um “Dito” de Jesus, que se encontra no chamado “Sermão da Montanha”.
Nele encontramos duas parábolas – a do sal e a da luz.
MENSAGEM
O objetivo destas parábolas é destacar a missão deste novo Povo de Deus.
Depois de apresentar a nova Lei, ou seja, as “bem-aventuranças” (que estudamos na semana passada), Jesus define a missão daqueles que assumem a proposta do novo Reino.
SAL DA TERRA
A primeira parábola, ou seja, comparação é a do sal.
Na época do Novo Testamento, o valor primário do Sal não estava em seu uso como condimento, mas em sua capacidade de preservar os alimentos.
Lembremo-nos que a geladeira e um móvel doméstico muito recente. Que até bem pouco tempo, se usava banha para preservar os alimentos.
Outro significado do sal para aquele povo, podemos retirar do Antigo Testamento. Ele também era usado para significar o valor durável de um contrato. É nesse contexto que encontramos a expressão “aliança de sal” (Nm 18,19 e 2 Cr 13,5). Fala-se de um compromisso permanente, perene, inalterável.
Um outro significado que podemos dar ao sal é o de condimento para temperar os alimentos. Como é difícil às pessoas com hipertensão, seguirem a dieta proposta pelo médico. O sal faz muita falta na comida.
Ilustração:
Da última vez que fui com o meu sogro ao médico, ele precisou ficar internado. Sua pressão estava muito alta. Assim que internou, já era a hora da janta. Seguindo a prescrição médica, serviram-lhe uma canja de frango sem sal. Foi hilário ver o rosto dele. Ele comia com uma má vontade. Pois o que ele mais gostava era de uma comida com bastante tempero. De fato, o sabor do sal faz muito falta na comida.
E um último significado para o sal é o de banho terapêutico. Quem nunca ouviu falar na famosa “salmora”. Banho de água e sal destinado a curar os machucados ( muitas vezes da surra que se levou).
Dizer portanto que os discípulos são o são da terra, significa dizer:
1) Eles são responsáveis por preservar o mundo que Deus. Devem ser obstáculo à corrupção e deterioração que o pecado tem causado.
2) São representantes da aliança eterna. Deus prometeu, e cumprirá. Os discípulos devem viver e pregar essa aliança, que é imutável.
3) Os discípulos devem dar sabor ao mundo.
4) Por último, o discípulo deve ser um instrumento para a cura deste mundo doente.
Dizer que os discípulos são “o sal da terra” significa, dizer, que são chamados a fazer diferença no mundo. Sua presença deve ser notada. Sua falta deve ser sentida. Ele tem muito a colaborar com Deus na implantação do Seu Reino.
Somos chamados por Deus a fazer diferença nos lugares por onde passamos. Devemos dar o melhor de nós. Pois para isso fomos chamados.
A referência à perda do sabor (“se o sal perder o sabor… já não serve para nada”) destina-se a alertar os discípulos para a necessidade de um compromisso efetivo com o testemunho do “Reino”.
Se os discípulos de Jesus recusarem ser sal e se omitirem das suas responsabilidades, o mundo será guiado por critérios de egoísmo, de injustiça, de violência, de perversidade, e estará cada vez mais distante da realidade do “Reino” que Jesus veio propor.
Nesse caso, a vida dos discípulos terá sido inútil. Não cumpriram o propósito para o qual foram chamados.
LUZ DO MUNDO
A segunda comparação é a da luz.
Para a explicar, Jesus utiliza duas imagens.
A primeira imagem (a da cidade situada sobre um monte) leva-nos a Is 60,1-3, onde se fala da “luz” de Deus que devia brilhar sobre Jerusalém e, a partir de lá, alumiar todos os povos.
A interpretação judaica de Is 60,3 aplicava a frase a Israel: o Povo de Deus devia ser o reflexo da luz libertadora e salvadora do SENHOR diante de todos os povos da terra.
A segunda imagem (a da lâmpada colocada sobre o candelabro, a fim de alumiar todos os que estão em casa) repete a mesma mensagem da primeira: os que aderem ao “Reino” devem ser uma luz que ilumina e desafia o mundo.
Na perspectiva de Jesus, a presença da “luz” de Deus para alumiar as nações se dará de agora em diante através dos discípulos, isto é, daqueles que aceitaram o apelo do “Reino” e aderiram à nova Lei (as “bem-aventuranças”) proposta por Jesus.
Contudo, essas duas imagens não estão ensinando que os discípulos de Jesus devam ser exibidos, orgulhosos, escolhendo lugares de visibilidade para serem aplaudidos.
Mas pretende dizer que a missão das testemunhas do “Reino” deve ser a de testemunhar os novos valores, questionar os valores mundanos, e assumir o papel profético de anunciar a vontade de Deus e denunciar os pecados dos homens.
Os discípulos não devem omitir-se da missão que recebeu do Senhor. Proclamar os valores do Novo Reino.
APLICAÇÃO PASTORAL
O que aprendemos através desses “ditos” de Jesus, que Mateus os colocou lado a lado no Sermão da Montanha é:
Deus nos propõe um projeto de libertação e de salvação que conduzirá à inauguração de um mundo novo, de felicidade e de paz sem fim.
Aqueles que aderiram a essa proposta têm de testemunhá-la diante do mundo e dos homens, com palavras e com gestos concretos, a fim de que o “Reino” se torne uma realidade.
Podemos nos questionar: Como é que nos situamos face a isto? Para nós, ser cristão é um compromisso sério, profético, exigente, que obriga a testemunhar o “Reino”, mesmo em ambientes adversos, ou é um caminho cômodo, onde nos contentamos em freqüentar um culto dominical por semana, e nos vermos livres do peso na consciência? “...Já fiz minha parte, fui a igreja”.
Temos sido, dia a dia, o sal que conserva, que representa a aliança de Deus, que dá o sabor, que cura?
Para as pessoas com quem nos relacionamos todos os dias, somos um personagem insípido, ou fazemos a diferença?
No meio do egoísmo, do desespero, do sem sentido que caracteriza a vida de tantas pessoas, temos dado testemunho de um mundo novo de amor e de esperança (Mundo este proposto por Deus)?
Ser cristão é também ser uma luz acesa na noite do mundo, apontando os caminhos da vida, da liberdade, do amor, da fraternidade…
Temos sido essa luz que aponta no sentido das coisas importantes, impedindo que a vida do próximo se gaste em coisas mesquinhas, sem sentido?
Para os que vivem no sofrimento, na dúvida, no erro, para os que vivem de olhos no chão, somos a luz que aponta para o mais além e para a realidade libertadora do “Reino”?
Lembremo-nos: Não somos “a luz”, mas apenas um reflexo da “grande luz”… Quer dizer: as coisas boas que possam acontecer à nossa volta não são o resultado dos nossos exercícios, mas o fruto da ação de Deus através de nós.
Como discípulos não devemos nos preocupar em atrair sobre o olhar dos homens; mas sim em conduzir o olhar e o coração dos homens para Deus e para o “Reino”.
Que possamos colocar em prática os ensinamentos os ensinamentos de Jesus.
De forma especial, que possamos assumir a responsabilidade de sermos sal da terra e luz do mundo.
Que Deus nos ajude nessa tarefa!
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