quarta-feira, 28 de julho de 2010

POR OCASIÃO DO DIA DO AGRICULTOR (Minha Homenagem)


Hoje, ao ler as manchetes do jornal, verifiquei que era o DIA DO AGRICULTOR. Esta profissão tão antiga e tão importante merece ser homenageada. Lembrei-me que num determinado momento de seu ministério Jesus chamou o Pai (Deus) de Agricultor.

Esta é uma figura de linguagem muito utilizada pelos judeus. No Antigo Testamento por várias vezes Deus é comparado ao viticultor que cuida com zelo de sua vinha (Israel). Um texto emblemático que nos apresenta esta figura de linguagem é o de Is 5,1-7.

Desejo, portanto, através desta breve reflexão homenagear todos os agricultores e agricultoras, que no plano espiritual precisam aprender a se posicionar como “PLANTAS OBEDIENTES”, diante do maior agricultor do universo. Não tive condições de escrever antes deste horário, mas meu coração estava meditando sobre este tema o dia todo. 


Desejo que você esteja sensível ao que vou partilhar logo abaixo.


TEXTO: Isaías 5.1-7
1 Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo.
2  Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas.
3  Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha.
4  Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?
5  Agora, pois, vos farei saber o que pretendo fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada;
6  torná-la-ei em deserto. Não será podada, nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela.
7  Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor.

CONTEXTO:
Isaías exerceu seu ministério em Jerusalém dos anos 740 à 700 a.C.. Nosso texto retrata o período inicial de seu ministério. Época em que Jotão era rei, portanto, um período de estabilidade política. Parecia que tudo estava bem. PORÉM, Isaías como profeta de Deus, levanta-se e começa a profetizar contra algumas ações de seu povo. Pois ainda que houvesse certa paz no que diz respeito a guerras contra os povos, Israel vivia uma conturbada relação interna. Havia injustiça, exploração dos mais fracos, corrupção, etc. Por outro lado, no campo religioso havia abundância de rituais e práticas piedosas. O povo investia muito em sua religiosidade.

A mensagem de Isaías neste período encontra-se nos capítulos 1-5. Segundo ele, Jerusalém deixou de ser a esposa fiel, para se tornar uma prostituta (Is 1,21-26); ou, dito de outra forma, a “vinha” cuidada por Deus só produz frutos amargos e não os frutos bons (de justiça e de amor).

Este texto é conhecido como o “cântico da vinha”. Na cultura judaica, a “vinha” é um símbolo do amor  (Cant 1,6.14; 2,15; 8,12). O “cântico da vinha” passa então a ser, na boca do poeta popular, uma “cantiga de amor”, que descreve os esforços do jovem apaixonado para conquistar a sua amada.

Mas, como acontece tantas vezes com as formas de expressão da cultura popular, rapidamente as palavras adquirem um duplo sentido e passam a evocar outra realidade. Isaías vai utilizar esta “cantiga de amor” como recurso para transmitir a mensagem que Deus lhe confiou.

ILUSTRAÇÃO
Há uma música de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, muito conhecida, que pode nos ajudar a entender este duplo sentido. Ela é muito utilizada nas propagandas de Shampoo. Ou até mesmo para momentos românticos. Mas a finalidade para qual ela foi composta é bem diferente. Trata-se da música “Debaixo dos Caracóis dos seus cabelos”. Roberto e Erasmo prestaram uma homenagem declarando que estavam com saudades do amigo Caetano Veloso, que estava exilado em Londres. Apesar da Jovem Guarda não ter sido um movimento político, mas sim musical, Roberto e Erasmo registraram através desta música um fato histórico: o exílio de Caetano Veloso.

 “Um dia a areia branca seus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos a água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir prá ver você chegar
E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história prá contar de um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade de ficar mais um instante

As luzes e o colorido que você vê agora
Nas ruas por onde anda, na casa onde mora
Você olha tudo e nada lhe faz ficar contente
Você só deseja agora, voltar prá sua gente.

Você anda pela tarde e o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito uma saudade um sonho
Um dia vou ver você chegando num sorriso
Pisando a areia branca que é seu paraíso.”

Fazendo uso de uma linguagem bem romântica, os amigos Roberto e Erasmo enviam uma mensagem a alguém que estava exilado do Brasil por questões políticas. Eis aí um duplo sentido.

MENSAGEM
Assim como Jesus utilizava-se de parábolas para ensinar sobre o reino de Deus, ou seja, utilizava coisas do cotidiano, coisas simples... para explicar coisas complexas... o profeta Isaías vai se utilizar de um cântico popular para transmitir a revelação de Deus.

Provavelmente ele tenha envolvido o povo com a sonoridade e a letra desta bela canção romântica. Muitos ficaram atentos prestigiando a arte. Porém, após entoá-la, ele fará uma aplicação teológica. Nela, Deus é o “Dono da Vinha” e Israel a própria “vinha”.

Deus trouxe as mudas (Israel) de longe (Egito) e as plantou numa terra muito bem preparada (Canaã). Mas o que foi que eles fizeram? Como foi que responderam aos esforços do Senhor?

O próprio profeta/poeta responde: Deus esperava que Israel vivesse no direito e na justiça, cumprindo fielmente as exigências da Aliança.... esperava uma vida de coerência com os mandamentos. Porém Israel faz tudo ao contrário.

Diante disso o profeta sugere que Deus irá abandonar esta vinha ingrata e infiel. Pois eles não estão produzindo frutos condignos à vocação que receberam.

APLICAÇÃO
Das várias lições que podemos tirar deste texto, gostaria de destacar as seguintes:

1.     Deus, como Criador de tudo e de todos, tem feito a Sua parte no Plano da Salvação. Tem preparado a terra e regado as mudas. Tem investido em nós o Seu melhor. Ele deseja que sejamos PLANTAS/ÁRVORES que dêem bons frutos. Para isso nos plantou (vocacionou).
2.     O homem precisa cumprir a sua parte. Precisa dar frutos condignos aos cuidados e investimentos do Senhor. Deus tem investido o seu melhor, por isso os frutos devem ser os melhores.
3.     Não adianta uma religiosidade divorciada da realidade. Não adianta freqüentar cultos e participar de ritos, se a prática não condiz com a celebração. O que Deus deseja é que venhamos a dar bons frutos, onde quer que estejamos, e não somente na igreja.
Diante destas lições, convido todos os agricultores e agricultoras, bem como todos os leitores deste blog a assumirem o propósito de serem “árvores plantadas junto às correntes das águas, que no devido tempo dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha” (Sl 1,3).

Deixe que o MAIOR AGRICULTOR DO MUNDO cuide de você. Faça a sua parte, pois Ele já está fazendo a Dele desde o princípio da criação.

Um abraço de quem não entende nada de agricultura, mas que sabe o quanto o Deus Agricultor pode cuidar de você.

Um comentário:

  1. Muito bonito e poético o texto.
    Vou compartilhar com meus amigos poetas, religiosos e agricultores, aproveitando para mandar o meu abraço e homenagens também.

    Aninha Pater

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