Hoje, 02 de
setembro de 2011, o metodismo brasileiro celebra o 81º aniversário de sua
autonomia. Para ajudar os amigos e amigas internautas no conhecimento deste
capítulo da história do metodismo brasileiro, compartilho abaixo dois textos: o
primeiro é de João Wesley Dornellas, fazendo uma respectiva histórica de como
chegamos à autonomia em 1930; e o segundo é o documento que consta nos Cânones
da Igreja Metodista, intitulado: “Proclamação da Autonomia da Igreja Metodista”.
Espero que façam boa leitura.
75 ANOS DE METODISMO AUTÔNOMO NO BRASIL
João Wesley Dornellas
... É tempo de
render muitas graças a Deus pelo que nossa Igreja tem feito e pelas vidas de
todos aqueles que, no passado, trabalharam muito para que nossa Igreja
crescesse e obtivesse a responsabilidade de ser autônoma. O século 20 encontrou
a nossa igreja em franco progresso.
Em 1886
tínhamos deixado de ser missão para nos tornar a Igreja Metodista Episcopal do
Sul. O "Expositor Cristão" circulava 52 vezes por ano. Tínhamos
igrejas nas cidades mais importantes.
Desde 1894 tínhamos a nossa Casa
Publicadora, que passou, depois, a chamar-se Imprensa Metodista. Para preparar
os obreiros chamados para o ministério, foi criado um curso teológico no
Granbery, que se transformou na alma mater
de alguns dos mais expressivos nomes do metodismo brasileiro. Tínhamos também
bons colégios e estávamos plantando o metodismo em outras cidades estratégicas.
Como conseqüência de tão operoso trabalho, a igreja crescia.
Em 1920
éramos 9.982 membros e, por ocasião da Autonomia, já tínhamos crescido para
15.560. Da mesma forma, passamos de 177 escolas dominicais, com 8.176 alunos,
para 323 escolas e 16.601 alunos. A Igreja era supervisionada por um dos bispos
da Igreja-Mãe que, infelizmente, não vinham aqui muito regularmente. De certa
forma, a maneira com que esses bispos presidiam nossa Igreja acabou sendo uma das
grandes motivações da Autonomia. Porque passavam aqui muito pouco tempo e nunca
chegaram a falar o nosso idioma, faltava comunicação. Normalmente, eles vinham
para as conferências (concílios) e se limitavam a visitar umas poucas igrejas.
Em vista disto, muitos pastores já aprovados para o diaconato ou presbiterado,
acabavam não podendo ser consagrados. Houve até o caso de um ministro ordenado
numa viagem de trem... No interregno entre as viagens episcopais, era bem
difícil administrar a Igreja já que as questões importantes dependiam de consulta
epistolar, que demorava muito. A falta de agilidade na administração da Igreja,
o pequeno conhecimento dos problemas brasileiros pelos bispos americanos, a
falta de conversação deles com os pastores acabaram gerando certos
descontentamentos que fizeram certamente crescer a idéia e o sonho de uma
igreja autônoma, dona do seu nariz. Outro motivo para a Autonomia, foi a
ausência de um órgão legislador para a Igreja. Nossas leis e nossa organização
já vinham prontas dos Estados Unidos. Por isto tínhamos uma estrutura muito pesada,
com muitos cargos e poucos recursos para exercê-los bem.
O sustento
próprio, como se verá à frente, foi um dos grandes fatores de motivação dos
brasileiros pela Autonomia, especialmente por parte dos leigos. O Movimento
Leigo A nossa Autonomia deve muito ao Movimento Leigo, iniciado em 1911. Seu
primeiro presidente foi Ataliba de Castro, da igreja de Vila Isabel. Em 1915,
ele foi substituído por Arino Ferreira de Moraes, de Juiz de Fora, que, em 1926,
mediante eleição, devolveu a presidência a Ataliba. Esse Movimento Leigo, que
tinha como lema: "ninguém ocioso na Igreja", promoveu inúmeras
reuniões, fazendo campanhas bem agressivas pelo sustento próprio. O movimento
alastrou-se por todo o Brasil metodista, motivando reuniões, estudos e artigos
que eram publicados no "Expositor". Por trás dos apelos feitos estava
bem clara a idéia da Autonomia Em 1924, na igreja do Brás em São Paulo, em reunião
promovida por seu pastor Guaracy Silveira, um grupo de pastores pede claramente
a Autonomia, cujo primeiro passo seria o sustento dos pregadores nacionais.
A questão começava
a criar emoções novas. Naquele mesmo ano, Guaracy Silveira mostrava sua visão nacionalista
e apela enfaticamente: "Metodistas a postos! A Igreja e a Pátria esperam
que cada um cumpra o seu dever". Por sua vez, o futuro bispo César Dacorso
Filho dizia: "seja o que for que nos espera no futuro, a verdade é que,
pouco a pouco, estágio por estágio, fase por fase, a Igreja já provou que tem
os méritos para protestar sua autonomia". O ano de 1926 foi muito especial.
A Igreja comemorou os 50 anos da chegada da missão Ransom e houve o primeiro Congresso
Geral dos Leigos. As reivindicações pela Autonomia tomam vulto. Uma comissão brasileira
esteve presente na Conferência Geral realizada no Tennessee. Não se conseguiu
um bispo residente mas passamos a ter conferências centrais, isto é, uma
espécie de concílio geral, apesar de suas limitações de poder. A Conferência
Central se reuniu duas vezes, em 1927 e 1929. Em ambas, realizadas em São
Paulo, as reivindicações de Autonomia tomaram força e passaram a ser
enfaticamente expostas. Os grandes líderes eram os pastores Guaracy Silveira,
César Dacorso Filho, José de Azevedo Guerra, Antônio de Campos Gonçalves, Epaminondas
Moura, Jorge Luiz Becker, Hugh C. Tucker, Paul E. Buyers, Walter Harvey Moore e
alguns outros, ao lado de leigos que tiveram também um papel muito importante.
Alguns missionários, no entanto, inclusive o bispo Cannon, se posicionaram
contrariamente à Autonomia na Conferência de 1927. O sonho realizado
Finalmente, na Conferência central de 1929, o metodismo brasileiro pediu
oficialmente a sua Autonomia à Igreja-Mãe, cuja conferência geral seria
realizada em Dallas, no Texas, no ano seguinte. As três conferências brasileiras
foram chamadas a pronunciar-se e também deram apoio à decisão.
No memorial dirigido
à Igreja americana, era pedida a eleição de Tarboux como bispo do Brasil. Uma comissão
de três pastores e três leigos viajou aos Estados Unidos para entregar o pedido
de Autonomia. A Conferência Geral aprovou, ao mesmo tempo, a Autonomia das
igrejas do Brasil, México e Coréia. Infelizmente, por não termos suficiente
lastro financeiro, o metodismo brasileiro teria que suportar, durante longos
anos, a convivência da Igreja-Mãe em suas deliberações. Finalmente, aprovada a
Autonomia, foram estabelecidas as bases em que ela se tornaria realidade. Foi
nomeada uma Comissão Constituinte, com cinco obreiros americanos e 15 da igreja
brasileira, cinco de cada uma das conferências anuais, que se reuniram no dia 2
de setembro de 1930 para elaborar o texto da nossa Constituição. Naquela noite,
no seu templo, o bispo Edwin Dubose Mouzon subiu ao púlpito, na companhia de
César Dacorso Filho e Epaminondas Moura, e leu a proclamação da Autonomia e a
Constituição da Igreja Metodista do Brasil. Logo a seguir, subiu ao púlpito
Guaracy Silveira, escolhido pelos brasileiros membros da Comissão Constituinte,
para recebê-la das mãos do bispo e presidir a primeira sessão do Concílio
Geral. No dia 4 de setembro de 1930 realizamos o sonho de ter um bispo. Para demonstrar
que não havia nenhuma hostilidade aos americanos, foi escolhido o Rev. John William
Tarboux, missionário que já havia se retirado do Brasil e vivia em Miami. Ele
obteve 18 dos 29 votos, sendo eleito no primeiro escrutínio. Como ele não
estava no Brasil, foi enviado um cabograma e ele aceitou a escolha, com a data
da consagração marcada para 12 de outubro na Igreja do Catete, da qual já havia
sido pastor. Ele foi consagrado por seus antigos colegas de Missão, James L.
Kennedy e Hugh C. Tucker, e outros ministros brasileiros. O culto foi dirigido
por Epaminondas Moura, com pregação de Afonso Romano Filho. Não havia bispo para
presidir a cerimônia. A escolha de Tarboux, que já havia se aposentado e
retornado aos Estados Unidos, até hoje ainda é motivo de curiosidade. Na
realidade, ele tinha sido um dos grandes heróis do trabalho metodista no
Brasil. Apesar de ter decidido, por motivos de saúde, a voltar à pátria logo
depois do Concílio de 1934, foi reeleito por unanimidade. Nesse concílio, foi eleito
César Dacorso Filho, nosso primeiro bispo brasileiro, que assumiu sozinho a
direção da Igreja. Em 1938, Tarboux, foi reeleito mais uma vez, com 38 dos 39
votos. Faleceu em 2 de maio de 1940. Finalmente, temos que dar muitas graças a
Deus e, ao mesmo tempo, nos preparar para os grandes desafios que hoje temos
pela frente: crescer mais, plantar o metodismo em milhares de cidades brasileiras
que ainda não o conhecem e recuperar a nossa identidade de doutrina e prática,
que têm sido desgastadas pela influência de alguns movimentos religiosos. Temos
que resgatar o metodismo equilibrado na sua capacidade de evitar, de um lado, o
emocionalismo barato e desenfreado, que escandaliza e separa, e do outro, o
formalismo, a frieza religiosa e a religião sem frutos. E recuperar o ímpeto evangelístico
de João Wesley, que dizia que "nada temos a fazer a não ser salvar
almas".
Proclamação da Autonomia da Igreja Metodista
Considerando que a Conferência
Central da Igreja Metodista Episcopal do Sul, no Brasil, reunida na cidade de
São Paulo, no mês de agosto do ano de nosso Senhor Jesus Cristo de 1929,
aprovou e enviou à Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul um
memorial, pedindo que as três conferências anuais do Brasil fossem organizadas
em Igreja Autônoma para que, tendo plena liberdade de se desenvolver como
instituição nacional, continuasse, contudo, em união íntima com a Igreja
Metodista Episcopal do Sul;
Considerando que a Conferência
Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, reunida na cidade de Dallas, Texas,
Estados Unidos da América, no mês de maio do ano de nosso Senhor Jesus Cristo
de 1930, estudou, cuidadosamente e com oração, o memorial apresentado pelos
delegados do Brasil e decretou:
“1º) que a Conferência Geral providencie a
nomeação de uma comissão composta de cinco membros, que será chamada Comissão
da Igreja Metodista do Brasil, e que esta comissão seja autorizada a ir ao
Brasil para conferenciar com uma comissão com idênticas atribuições, composta
de quinze membros, eleitos, cinco de cada uma das três conferências anuais do
Brasil, formando ambas uma só comissão;
2º) que esta comissão de vinte
tenha poderes para estabelecer a Igreja Metodista do Brasil com o grau de
relação orgânica com a Igreja Metodista Episcopal do Sul que a comissão determinar, porém que esta
comissão não tenha poderes para estabelecer uma Conferência Central da Igreja
Metodista Episcopal do Sul com autoridade para eleger os seus próprios bispos,
mas sim para organizar uma Igreja autônoma;
3º) que esta comissão seja
instruída para preparar a base da Organização da Igreja Metodista do Brasil,
provendo, também, relação contínua entre a Igreja Metodista do Brasil e a
Igreja Metodista Episcopal do Sul;
4º) que, caso seja estabelecida a
Igreja autônoma, esta comissão convoque uma reunião do corpo governante (
Conferência Geral ) o qual, logo que esteja legalmente funcionando, elegerá um
bispo e os demais oficiais, conforme o plano preparado pela comissão;
5º) que, dos fundos da
Conferência Geral, se paguem as despesas que houver com a organização da Igreja
Metodista do Brasil;
6º) que a comissão organizadora,
ao estabelecer-se a Igreja Metodista do Brasil, tenha cuidado de não violar as
limitações constitucionais da Igreja Metodista Episcopal do Sul; e que a mesma
tenha, também, cuidado de seguir os termos destas recomendações, especialmente
no seu espírito, e use de toda a discrição necessária no desempenho das suas
atribuições”.
Considerando que a Conferência
Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul, à vista do memorial que recebeu da
Conferência Central do Brasil, estabelecendo a maneira de manter a união com a
Igreja Metodista do Brasil, decretou mais:
“Em campos missionários, onde
existe uma Igreja Metodista, autônoma ou independente, filiada, organicamente
ou de outra forma, à Igreja Metodista Episcopal do Sul e à Junta de Missões,
organizar-se-á um Conselho Central composto de membros nacionais da Igreja
Metodista, autônoma ou independente, e de missionários que trabalham nesses
campos, o qual Conselho substituirá a Missão. Uma comissão conjunta da Igreja
Metodista Nacional e da Missão elaborará uma constituição para o Conselho
Central, a qual será submetida à aprovação da Junta Geral de Missões.
Nos campos missionários, onde se
organizar um Conselho Central em lugar de uma Missão, terá o referido Conselho
direito a dois representantes clérigos, um missionário e um nacional, à
Conferência Geral, cujos direitos e privilégios são os mesmos de delegados,
menos o direito de voto”.
Considerando que a Conferência
Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul elegeu uma comissão para estabelecer
a Igreja Autônoma no Brasil, cujo certificado de eleição reza assim:
“Dallas, Estado de Texas, 27 de
maio de 1930. A quem interessar: Certifico que, sábado, 17 de maio de 1930, a
Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal do Sul , em sessão quadrienal,
legalmente reunida na cidade Dallas, Texas, por proposta formal e apoiada,
elegeu as seguintes pessoas para constituírem a comissão para estabelecer a
Igreja autônoma no Brasil: Bispo Edwin D. Mouzon, de Charlotte, Carolina do
Norte; D.ª Esther Case, de Nashville,
Tennessee; J.W. Erskine Willians, de Fort Worth, Texas; Rev. J. L. Clark, de
Danville, Kentucky; Rev. F. S. Love, de Raleigh, Carolina do Norte, Assinado
por L. H. Estes, secretário da Conferência Geral”;
Considerando que, em obediência
às instruções acima mencionadas, a referida comissão veio ao Brasil, e
apresentou o plano de autonomia às três conferências anuais brasileiras que
foram convocadas em sessões regulares pelo Bispo James Cannon Júnior, Bispo
encarregado do trabalho no Brasil;
Considerando que as três conferências
anuais do Brasil, a saber, a Conferência Anual Brasileira, reunida na
cidade de Petrópolis, de 7 a 9 de
agosto; a Conferência Anual Central Brasileira, reunida na cidade de São Paulo,
de 13 a 15 de agosto, e a Conferência Anual Brasileira do Sul, reunida na
cidade de Passo Fundo, de 21 a 22 de agosto, todas no ano de nosso Senhor Jesus
Cristo de 1930, unanimemente aprovaram o plano de autonomia adotado pela
Conferência Geral na cidade de Dallas, Texas, e que cada uma delas elegeu cinco
delegados a saber:
A Conferência
Anual Brasileira - W. H. Moorem, César Dacorso Filho, Epaminondas Moura,
Ottília de O . Chaves e Osvaldo Lindenberg;
A Conferência
Anual Central Brasileira - W. B. Lee,
Guaraci Silveira, Osvaldo L. da Silva, Elias Escobar Júnior e Francisca de
Carvalho;
A Conferência
Anual Sul Brasileira - G. D. Parker, A.M. Ungaretti, João Inácio Cerilhanes,
Eunice Andrew e Efraim Wagner;
Considerando que a Comissão
Conjunta, composta das pessoas supramencionadas, se reuniu na cidade de São
Paulo, na Igreja Metodista Central, nos dias 28, 29 e 30 de agosto a 2 de
setembro de 1930, elaborou a seguinte CONSTITUIÇÃO, devidamente assinada pelo
presidente e secretários da dita comissão: (A CONSTITUIÇÃO aqui mencionada se
encontra nos Cânones de 1934 e 1938);
Considerando que a Comissão
Conjunta deu todos os passos necessários para a convocação do Concílio Geral da
Igreja Metodista do Brasil e convocou o mesmo para a cidade de São Paulo em
dois de setembro do ano de nosso Senhor Jesus Cristo de 1930;
Nós, os membros da Comissão
Conjunta, rendendo graças a Deus por sua direção e pelo espírito de cooperação
que reinou em nossas deliberações, declaramos aberto o primeiro Concílio Geral
da Igreja Metodista do Brasil; declaramos, mas, que os membros e ministros da
Igreja Metodista Episcopal do Sul no Brasil, passam, por este ato, a ser
membros e ministros da Igreja Metodista do Brasil; que a Igreja Metodista
Episcopal do Sul deixa de existir no Brasil, e que a Igreja autônoma, por esta
proclamação, fica constituída.
Cidade de São Paulo, 2 de
setembro de 1930
(aa.)
|
Edwim D. Mouzon, Esther Case, W. Erskine
Williams,J. L. Clark. F. S. Love, W. H. Moore, César Dacorso Filho ,
Epaminondas Moura, W. B. Lee, Guaraci Silveira, Osvaldo Luiz da Silva, Elias
Escobar Júnior, Francisca Ferreira de Carvalho, G. D. Parker, A M. Ungaretti,
J. I. Cerilhanes, Efrain Wagner, Eunice F. Adndrew.
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