Compartilho as anotações do sermão do culto vespertino do domingo passado. Desejo que possa edificá-los ou mesmo servir como recurso homilético aos colegas pregadores e pregadoras da Palavra de Deus.
COnvertei-vos!
aBANDONANDO A LÓGICA MUNDANA... ASSUMINDO A LÓGICA DIVINA.
texto: Isaías 55.6-9
6 Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai -o
enquanto está perto.
7 Deixe o perverso o
seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se
compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.
8 Porque os meus
pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus
caminhos, diz o SENHOR,
9 porque, assim como
os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do
que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos
pensamentos.
ConTexto:
O Livro de Isaías, tal como
conhecemos hoje, pode ser dividido em três partes:
1)
Isaías: Caps. 1-39 - textos do
próprio Isaías. Retrata o período que ele viveu (781-740), ou seja, uma época
antes do Exílio. Tempo em que o povo que dominava era a Assíria. O Reino do
Norte, fez uma aliança com a Síria, para combater os Assírios, porém perdeu e
foi riscada do mapa. Este é o momento quando é extinguido o Reino do Norte.
Isaías é o profeta que vai pregar a neutralidade política nesta luta entre Síria
x Assíria. Por isso o Reino de Judá sobreviverá. Porém, logo assumiu aliança
com a Assíria, então o profeta exortará o povo.
2)
Deutero-Isaías (Segundo Isaías):
Caps. 40-55 - Chamado de “Livro da Consolação” que é do tempo do Exílio
Babilônico. Foi escrito, provavelmente, por um só autor, e discípulo de Isaías.
Entendamos o momento histórico: de 605 a 562 Nabucodonozor conseguiu fazer da
Babilônia a “Potência Mundial”. Porém, no final deste período se levantava Ciro
II, rei da Persa, que sujeitou os Medos (553), os Lídios (546), e que agora
caminhava rumo à conquista da Babilônia. Os israelitas, que sofriam no exílio
babilônico, se alegravam de antemão com este fato, pois sabiam que os persas
respeitavam a cultura e a religião dos povos conquistados. Portanto eles teriam
uma maior liberdade para cultuar a Deus. Daí entendermos o porque o profeta
chamará o Rei Persa (Ciro II) de instrumento de Deus.
3)
Trito-Isaías (Terceiro Isaías):
56-66 – provavelmente foi escrito por vários autores. Todos eles também, discípulos
de Isaías. Daí, o fato de na hora de compilar o Cânon, ter se colocado todos os
três interligados, ou melhor, em seqüência.
O nosso texto encontra-se na
segunda parte: o Deutero-Isaías (40-55). O autor deste é um profeta que viveu
entre os exilados da Babilônia, procurando consolar e manter acesa a esperança
no meio de um povo amargurado, desiludido e decepcionado. Daí o título do
livro: “Livro das Consolações”.
Na primeira parte (40-48), ele
vai anunciar aos exilados a libertação do cativeiro e um “novo êxodo” do Povo
de Deus rumo à Terra Prometida; na segunda parte (49-55), ele fala da
reconstrução e da restauração de Jerusalém.
O nosso texto é a conclusão do
“Livro da Consolação”. Aproxima-se
a libertação e, para muitos exilados, está perto o momento do regresso à Terra
Prometida.
Depois
de exortar os exilados a cumprir um novo êxodo e de lhes garantir que, em Judá,
vão sentar-se à mesa do banquete que Deus quer oferecer ao seu Povo (cf. Is
55,1-3), o profeta vai lançar outro desafio.
O
tempo do Exílio foi um tempo de angústia e de sofrimento, mas também um tempo
de amadurecimento e de graça. Aí, Israel tomou consciência das suas falhas e
infidelidades, e descobriu que o viver longe de Deus não conduz à vida e à
felicidade; por outro lado, o tempo de Exílio ajudou Israel a purificar a sua
noção de Deus, da Aliança, do culto e até do significado de ser Povo de Deus.
O
profeta – neste momento em que se abrem novos horizontes – convida o povo a
percorrer esse caminho de conversão e de redescoberta de Deus que a experiência
do Exílio lhes revelou.
O
Povo está prestes a pôr-se a caminho em direção à Terra Prometida; esse
“caminho” não é uma simples deslocação geográfica mas é, sobretudo, um
“caminho” espiritual de reencontro com o Senhor.
Deixar
a terra da escravidão e voltar à terra da liberdade deve significar, para
Israel, uma redescoberta da lógica de Deus e um esforço sério para vivê-la.
MENSAGEM
O
profeta convida o povo a um recomeço.
Neste
novo tempo que a História vai abrir aos exilados, é preciso que renovados pela
experiência do Exílio, eles continuem a procurar o Senhor, a invocá-lO, a
cultivar laços de comunhão e de proximidade.
A
palavra traduzida por converter-se (em hebraico: 'shûb') significa literalmente, voltar-se parra Deus.
Essa
“conversão” exige uma transformação radical do homem, quer em termos de
mentalidade, quer em termos de comportamento (“deixe o ímpio o seu caminho e o
homem perverso os seus pensamentos” – vers. 7).
A
mentalidade, os valores, as atitudes dos “ímpio” e do “homem perverso”, estão
muito longe da mentalidade, dos valores e dos pensamentos de Deus.
A
vida do “ímpio” e do “homem perverso” funciona numa lógica de egoísmo, de
orgulho, de auto-suficiência, de violência, de exploração. Seus caminhos geram
sofrimento, infelicidade e morte.
A
lógica de Deus é diferente. É uma lógica de amor, de serviço, de partilha, de
doação; Seus caminhos geram alegria, paz verdadeira e vida plena.
O
profeta chama o povo a abandonar a lógica do “ímpio” para assumir a lógica de
Deus. Só dessa forma o Povo poderá ser feliz na Terra a qual vão regressar.
A
conversão implica também, uma mudança na forma de ver Deus. O homem tem sempre
tendência a construir um deus à sua imagem, um deus previsível e domesticado
que funcione de acordo com sua lógica e mentalidade. No entanto, Deus não pode
ser reduzido aos nossos esquemas humanos: os seus pensamentos não são os
pensamentos do homem, as suas ações não são as ações do homem, os seus caminhos
não são os caminhos do homem.
“Converter-se”
é aprender que Deus não é redutível às nossas lógicas e esquemas humanos; e é
aprender que Deus tem os seus próprios caminhos, diferentes dos nossos.
“Converter-se”
é prescindir das nossas certezas, preconceitos e auto-suficiências, para
confiar em Deus.
Aplicação Pastoral
Das várias lições que podemos tirar deste
texto, gostaria de destacar as seguintes:
Antes de mais, o nosso texto apela à conversão.
O “voltar para Deus” significa, neste contexto, re-equacionar a vida, de modo a
que Deus passe a estar no centro da existência do homem. A cultura pós-moderna
prescindiu de Deus… Considerou que o homem é o único senhor do seu destino e
que cada pessoa tem o direito de construir a sua felicidade à margem de Deus e
dos seus valores; considerou que os valores de Deus não permitem ao homem
potencializar as suas capacidades e ser verdadeiramente livre e feliz.
O homem só poderá converter-se a Deus e
abraçar os seus esquemas e valores, se se mantiver em comunhão com Ele. É na
escuta e na reflexão da Palavra de Deus, na oração freqüente, na atitude de
disponibilidade para acolher a vida de Deus, na entrega confiada nas mãos de
Deus, que o crente descobrirá os valores de Deus e os assumirá. Aos poucos, a ação
de Deus irá transformando a mentalidade desse crente, de forma a que ele viva e
testemunhe Deus e as suas propostas para os homens.
Finalmente, o nosso texto sugere uma reflexão
sobre a imagem que temos de Deus. Não podemos construir e testemunhar diante
dos outros homens um Deus à nossa imagem, que funcione de acordo com os nossos
esquemas mentais e que assuma comportamentos parecidos com os nossos. Temos de
descobrir, no diálogo pessoal com Ele, esse Deus que nos transcende
infinitamente. Sem preconceitos, sem certezas absolutas, temos de mergulhar no
infinito de Deus, e deixarmo-nos surpreender pela sua lógica, pela sua bondade,
pelo seu amor.
Ilustração
A CRIANÇA E
O FARMACÊUTICO
Dono de uma bem sucedida farmácia numa cidade
do interior, João não acreditava na existência de Deus ou de qualquer outra
coisa, além do mundo material.
Certo dia, quando ele já estava fechando a
farmácia, chegou uma criança com um bilhete nas mãos, solicitando um remédio.
Ele disse que já estava fechado, mas a criança, com lágrimas nos olhos,
informou-o que sua mãe estava muito mal e precisava com urgência daquela
medicação.
Devido à insistência da menina, mesmo
contrariado resolveu reabrir a farmácia e vender o remédio, mas, devido à sua
insensibilidade e àquele nervosismo sem causa, não acendeu a luz e pegou um
remédio errado, cujo efeito era exatamente o contrário do que aquela mulher
precisava e, certamente, iria matá-la.
Em pânico, tentou alcançar a criança, sem
êxito.
Voltou para a farmácia e, sem saber o que
fazer, com a consciência pesada e com medo, muito medo - de ser processado ou
até mesmo preso, de perder tudo o que levou a vida inteira para construir -
instintivamente fez algo que nunca havia feito: ajoelhou-se e orou. Mesmo sendo
um ateu, seu espírito o levou a buscar o Criador e clamar por ajuda.
De repente, sentiu uma mão a tocar-lhe o
ombro esquerdo e ao se virar, deparou-se
com a criança: "Senhor, por favor, não brigue comigo, mas é que eu caí e
quebrei o vidro do remédio. Dá pro senhor me dar outro?".
CONCLUSÃO
Queridos irmãos e irmãs, só entendemos a
lógica de Deus pela fé. Se faz necessário abandonarmos nossa arrogância para
experimentá-la.
Que
Deus nos abençoe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário