Deus nos criou com dois ouvidos e
uma só boca, mesmo assim teimamos em falar mais do que ouvir.
Gosto muito de um texto de Rubem
Alves intitulado ESCUTATÓRIA. Nele, o autor nos chama a atenção para o fato de
que estamos tão ansiosos por falar que nem mesmo prestamos a atenção no que
outro está dizendo.
Nosso desejo de falar é tanto que
existe até curso para nos ajudar nesta arte: ORATÓRIA. O problema é que não
existe um curso para nos ajudar a escutar, daí o vocábulo “escutatória”. Rubem
Alves toca num tema extremamente instigante: o diálogo.
Vivemos numa sociedade onde
parece reinar o monólogo. Mesmo quando tentam interagir, muitas pessoas apresentam
seus discursos sem levar em conta o que o outro lhe disse. Não prestamos
atenção no que o outro tem a dizer, porque estamos preocupados em elaborar
nossa próxima fala. É a apresentação de monólogos de duas ou mais pessoas num
mesmo local.
Parece que este estado pernicioso
tende a se agravar quando nos propomos a conversar com alguém que necessita
desabafar... colocar para fora suas dores. Por estarmos interessados em dar
conselhos... receitas prontas, não levamos em conta o processo terapêutico da catarse.
Achamos que nossa visão do assunto vai ajudar a pessoa. Uma ação de fora para
dentro.
Lembro-me da expressão de Jó ao
querer ser ouvido, mais que ensinado. Ele apresentou sua defesa frente às
acusações (receitas) de seus “amigos”. Ele disse: “Ah! quem me dera um que me
ouvisse” (Jó 31:35).
Mesmo com toda a tecnologia da
comunicação em mãos, ainda hoje não somos capazes que nos calar para ouvir o
outro... principalmente o outro que sofre. Acredito que precisemos de seguir a ideia
de Rubem Alves e realizar cursos de “escutatória”... ou seja, curso de capacitação
para ouvir.
Enquanto não é possível realizar
o curso, que tal realizar exercícios de escutatória. Disponha-se a ouvir mais e
falar menos. Este exercício poderá beneficiar o outro, bem como a você. Eu
quero iniciar meu exercício.
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