Domingo, 18 de dezembro, a Catedral Metodista de Piracicaba realizou um culto em ação de graças por meu ministério pastoral frente a comunidade local, como uma forma de despedida. Dentre as várias homenagens o irmão Gustavo Alvim ficou responsável por representar a Catedral como um todo. Suas palavras foram gravadas e também podem ser lidas no texto abaixo. Senti-me grandemente honrado pelas palavras do nosso irmão e louvo a Deus pela oportunidade de ter convivido com este rebanho e por ele ser pastoreado em tempos difíceis. LOUVADO SEJA O NOME DO SENHOR!
TEXTO NA ÍNTEGRA:
HOMENAGEM AO PASTOR PAULO DIAS NOGUEIRA
E FAMÍLIA
Nossa vida é feita de ciclos; que se sucedem; que se
sobrepõem. Uns mais longos, outros mais curtos. Alguns mais agradáveis, que
deixam saudade, outros mais complicados, que desejamos esquecer. Há os recorrentes
e os que nunca mais voltam. Assim é a vida. Hoje a família Nogueira encerra um
ciclo vivido em
Piracicaba. Por sua vez, nós, membros e participantes desta
igreja, também sentimos o findar de um inesquecível ciclo sob o pastoreio do
Rev. Paulo.
O encerramento desse ciclo foi devido à itinerância, prática
usual na Igreja Metodista, que corresponde à transferência eventual de pastores
e pastoras. Essa efemeridade dos clérigos nas igrejas faz parte da tradição e
da identidade metodista. Itinerância vem de “iter”, que significa caminho; daí
itinerário e itinerância. Itinerante é alguém que viaja, que caminha, que se
desloca. Jesus Cristo, os discípulos e os apóstolos foram itinerantes. John
Wesley foi itinerante, algo que ele praticava e estimulava. Por isso, os
Cânones, ou seja a legislação interna da Igreja Metodista estabelecem como
dever do pastor “aceitar a itinerância”.
Como tudo na vida, a itinerância apresenta vantagens e
desvantagens. Não é o caso de abordá-las
agora. Felizmente, essa prática tem sofrido alterações para adequá-la às
transformações sociais, econômicas, eclesiásticas, familiares e tantas outras mudanças
dos dias atuais. Por meio de avaliações busca-se conhecer e sopesar diferentes
aspectos e interesses, sejam do pastor, da sua família, da igreja local, da
igreja regional, para que as nomeações correspondam às necessidades, aos apelos
da Missão e aos desígnios de Deus. Sabemos que os pastores e as pastoras metodistas estão sujeitos a essas transferências
de tempos em tempos, porém, mesmo assim, quando elas acontecem há emoção e comoção,
que provocam os mais variados tipos de reações. E não poderia se diferente, afinal
é sempre uma separação do pastor ou da pastora e seu rebanho, depois de um
período de estreita convivência, que propicia o enraizamento de amizades e o
florescimento do amor. A notícia da transferência quando chega, geralmente desestabiliza
irmãs e irmãos, causando revolta e lágrimas, bem como prenúncios de saudade.
Tem sido assim, aqui em nossa igreja. A extensa galeria
de ex-pastores, cujos retratos estavam no salão, ora em reforma, nos lembra
essa realidade vivida muitas vezes, durante os 130 anos de sua existência. E
certamente continuará sendo assim no futuro. O importante é recebermos esse
fato como desígnio de Deus. Afinal, Ele é o Senhor de todos nós. Ele nos ama e
quer o melhor para os Seus filhos. Não é fácil pensar dessa maneira, contudo a
fé tem de nos levar à crença de que as nomeações são feitas para o avanço da
Missão, conforme os planos divinos.
É com essa realidade que estamos nos confrontando
agora. Tivemos, na Catedral, maravilhosos oito anos de muitas bênçãos sob o
pastoreio do Revº. Paulo. Muita coisa boa aconteceu nesse ciclo. Foi tempo de
bênçãos e dádivas. Momentos importantes e marcantes para nós, suas ovelhas, e
para a família Nogueira, vividos neste lugar. Alegrias, vitórias e momentos
difíceis da vida do casal e filha foram partilhados com a Igreja. Trazemos à
memória alguns deles, como o longo período de orações fervorosas das irmãs e
irmãos, durante talvez uns três anos, com pedidos a Deus para que a Valéria
engravidasse. O gol não saía, mas a torcida foi fiel, até podermos comemorar
juntos a vitória. E quando ela veio, a graciosa Beatriz passou a receber a
atenção e o carinho de todos nós. Estendemos-lhes o nosso amor e nos alegramos
com o verdadeiro milagre.
Igualmente, sofremos juntos, ajoelhados diante de
Deus, clamando por Sua misericórdia, durante os dias da grave enfermidade do
pastor Paulo, que nos deu um grande susto. Deus foi bondoso para com ele e para
conosco, restabelecendo-lhe a saúde para o regozijo de toda a Igreja.
Acompanhamos também os esforços da Valéria e do pastor
Paulo, na busca de mais conhecimento e titulação acadêmica, relevantes para a
formação de ambos, com vistas a melhor servir o Senhor. Igualmente, nos
alegramo-nos com essas vitórias, fruto da dedicação de ambos aos estudos e do
desejo de se manterem atualizados.
A presença freqüente do pastor Paulo nas reuniões de
oração das mulheres de nossa Igreja foi algo inestimável para a consolidação
dessa atividade que cresceu de maneira vigorosa a partir de sua chegada a
Piracicaba. Suas reflexões, seus ensinamentos e a música acompanhada ao vilão foram
motivos para a presença crescente e constante de grande número delas.
Não pode se esquecido, o seu entusiasmo durante o
restauro do templo, fruto de sua preocupação com a preservação do patrimônio
histórico. Em contrapartida, foi igualmente relevante sua atuação ao enfrentar
o desafio de conseguir a anulação do tombamento de imóveis da Igreja, que havia sido feito sem critérios técnicos e
históricos e que estava prejudicando a nossa Igreja. São fatos que merecem
registro.
Outra marca que fica nessa comunidade é a realização
do “Templo de Portas Abertas”, durante a semana santa, nas manhãs, em jejum,
seguida de um lauto café da manhã. A participação do pastor Paulo nas visitas
da Sociedade de Mulheres ao Lar Betel, pregando, orando, cantando, conversando
e brincando com os idosos, ali moradores, não será esquecida. E ainda a sua
presença nas festas, saraus e, destaque especial, aos “almoços e jantares da
travessinha”.
Também o cuidado com a circulação regular do boletim,
o capricho na liturgia, com destaque para os batizados de crianças são dignos
de nota. A acolhida dada a atividades
musicais, nos cultos, com a presença de orquestras e corais de excelente nível,
reveladora de sua preocupação com o desenvolvimento cultural de seu aprisco, chamou
a atenção até mesmo da cidade.
O uso de moderna tecnologia em nossos cultos, a criação
do "grupo de oração online", a exposição de seu blog, os registros
fotográficos em profusão (frutos dos cuidados iconográficos de um historiador)
são outras ações a serem referidas. O uso do “power-point” tornou mais
interessante, mais atrativa, mais inteligível, mais moderna a apresentação,
pelo pastor Paulo, dos seus sermões inspiradores e bem cuidados, projetados em
cores, sempre didáticos, com “o texto e o contexto, a mensagem e as aplicações
pastorais”. De graça e de carona, tivemos também aulas de homilética (que pode
ser entendida como a arte de pregar sermões), sem dúvida resquício de sua forte
vocação acadêmica e docente. (Quando pensava nos recursos da informática,
ocorreu-me uma idéia sugestiva: não seria o caso de tê-lo como “pastor
virtual”?)
São muitas as marcas; não há tempo para registrar
todas, mas não podemos deixar sem menção os seus bordões famosos: “seja o
primeiro ato de nosso culto”; “saímos de nossas casas, viemos a este templo,
para cultuar a Deus”; e no final dos mesmos, “a congregação pode se assentar,
fazer sua oração pessoal e ouvir o prelúdio; eu estarei à porta para
cumprimentá-los”. E ainda o indefectível: “amém e amém”. Deixarão saudades!
Indubitavelmente,
sua consagração, seu amor ao Evangelho e ao seu rebanho, seu apego à
preservação de valores wesleyanos, sua liderança, sua solidariedade, sua amizade,
seu cuidado e zelo para conosco, sua alegria, seu sorriso, seu entusiasmo, seu
bom humor, sua disposição, seus abraços, seu carinho para com as crianças e os
jovens, suas orações, seus aconselhamentos, sua presença em momentos de dor e
sofrimento bem como em situações de crise, suas palavras de consolo e tantas
outras virtudes deixarão marcas indeléveis. Felizmente,
vocês continuarão bem perto. Mas a saudade, que se
instala em nós já está apertando nossos
corações. Desejamos-lhe, Valéria e Beatriz, as mais copiosas e ricas bênçãos
para suas vidas. E ao senhor, Rev. Paulo, também auguramos bênçãos para sua
vida ministerial. Que, como servo fiel, o senhor continue sob a proteção divina, inspirado pelo Espírito Santo
e guiado pela sabedoria que vem de Deus, na caminhada da inefável Missão.
Somos gratíssimos a Deus pela vida de vocês e por Ele
nos ter mandado para a nossa Igreja, deixando-os conosco durante oito anos, que
passaram tão depressa. Queremos que nos visitem sempre que puderem. Aqui serão
sempre recebidos de braços abertos e corações alegres. Fica a saudade, mas é bom dizer, a presença
da saudade só e possível onde antes houve amor. Ciclos costumar voltar, vamos
torcer para que isso aconteça. Contem com nosso amor e com nossas orações.
(Cultos
matutino e vespertino de 18/12/2011 – Catedral Metodista de Piracicaba –
Gustavo Jacques Dias Alvim)
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