Por convite do meu amigo, Pr.
Marcelo Ramiro, ontem (05.04) preguei da Igreja Metodista do Campos Elíseos -
Campinas - SP. Aproveitando a data, domingo de Páscoa, intitulei o sermão de
"Páscoa: vitória da vida sobre a morte.
Iniciei o sermão apresentando a
história desta festa e as várias interpretações e reinterpretações da mesma. Expliquei-lhes
que tudo começou com os pastores nômades de Israel que no verão mudavam-se de
local em busca de novos pastos para seus rebanhos. Antes de se transferirem de
região celebravam uma festa semelhante à Páscoa. Celebravam a possibilidade do
recomeço. Após a libertação do Egito esta festa foi reinterpretada pelo povo
como sendo a memória do livramento que Deus lhes dera. Celebravam a nova vida,
a nova sociedade, o reinicio.
Jesus reinterpreta novamente esta
celebração, instituindo um memorial com
novas significações. Diz que o pão da páscoa, passa a significar seu corpo e o
cálice, seu sangue. Esta era a nova aliança de Deus com os homens. Ele veio
para restaurar a vida no mundo. Depois da ressurreição de Jesus a Igreja
reinterpretou mais uma vez a festa considerando-a a vitória de Jesus sobre a
morte. Desde sua origem esta festa significou a vitória da vida sobre a morte. PÁSCOA,
portanto, é tempo de optar pela vida em meio a tantos sinais de morte
existentes no mundo.
Convidei-lhes à leitura do texto
bíblico de João 20:19-29 (texto proposto pelo Lecionário Cristão para o próximo
domingo, porém, eu me adiantei). Após a leitura, ressaltei o fato dos discípulos estarem escondidos e com medo,
para introduzir a idéia de que nos momento de adversidades experimentamos
alguns sinais de morte. Foi em meio a este período difícil de tribulação que o
Senhor ressurreto se apresentou a eles e disse: PAZ SEJA COM VOCÊS".
Neste momento, compartilhei sobre
o significado bíblico teológico da palavra paz. Esclareci que esta palavra, que
em hebraico é SHALOM e em grego é IRENE, aparece 239 vezes na Bíblia e tem muitos
significados: bem-estar, felicidade, saúde, segurança, relações sociais justas
e harmonia consigo mesmo, com o próximo e com Deus. Neste sentido, a palavra contém
a idéia de perfeição e completude. Paz na Bíblia, portanto, não é apenas uma sensação
interior ou um período de ausência de conflitos, mas sim, a construção de uma
sociedade mais justa, promotora de vida plena para todos. Este conceito se opõem
a PAX (paz em latim) oferecida pelo império romano, que conquistava os povos
mais fracos e os subjugava ao seu
poderio. Estas eram ações de dominação através de estruturas políticas e
sociais de exploração.
O próprio Senhor Jesus afirmou em
Jo 14:27 que a paz que ele prometia não era baseada neste conceito de pax, mas
sim de shalom/irene. Disse: A paz que dou não é a paz que o mundo promete dar.
Ressaltei neste instante uma experiência vivida quando visitei a África do Sul
e lá aprendi sobre o termo UBUNTO: "sou o que sou pelo que nós somos". Precisamos
aprender sobre a interdependência que temos enquanto sociedade humana e eco-sistema.
A paz que Jesus declarou aos discípulos, marcada pela mentalidade de realização
plena, não deve ser propriedade individual de ninguém, mas sim, um direito a
todos. Falar da ressurreição e falar sobre a possibilidade de trazer vida
àqueles e àquilo de está morto. Num mundo marcado pelo egoísmo, individualismo
e consumismo, somos convidados a superar estas posturas, vivendo o amor ao
próximo e ajudando a construir relações mais justas e igualitárias entre os
seres humano.
Concluí o sermão contando a
parábola do milho de pipoca de Rubem Alves. Disse-lhes que diante das
provações, somos chamados a cumprir nossa razão de existir. Mais do que
construir uma espiritualidade egoísta que não se abre para o propósito eterno
de Deus fechando-se às possibilidades de superação dos problemas individuais em
nome da realização comunitária, somos chamados a viver a plenitude de nossa existência. Existimos do
outro, com o outro e para o outro. Assim como o milho que ao passar por
"adversidade" (óleo quente) abre-se diante do novo e torna-se um
"floquinho" macio e delicioso, assim nós, diante de momentos difíceis
em nossa vida pessoal não podemos deixar de viver a plenitude para a qual fomos
criados - fazer o bem e amar ao próximo. O milho que se fecha em si mesmo e não
realiza o propósito de sua existência vira "piruá". Estes para nada
serve, se não para se jogar fora. Terminei o sermão perguntando a todos se
gostariam de ser pipocas o piruá em suas vidas.
Após o sermão celebramos a Ceia
do Senhor. Agradeço a Deus a oportunidade de ter celebrado ao Senhor ao lado
destes irmãos e irmãs queridos, como também agradeço ao Pr. Marcelo Ramiro pelo
carinho e confiança. Que o senhor continue abençoando a IM Campos Elíseos.
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