Ontem, 01 de abril, conhecido por
muitos como o "Dia da Mentira" tive oportunidade de participar de uma
celebração maravilhosa que relembrava a ressurreição daquele que é o caminho, a
verdade e a vida. Por convite da irmã Rosane Santos participei da celebração da
Páscoa do Grupo de Comunhão do Gramado (Igreja Metodista Central de
Campinas-SP). Fui convidado especialmente para compartilhar com crianças,
pré-adolescente e adolescentes a história da Páscoa. Enquanto o Rev. André
Souza ministrou para os jovens e adultos, eu fiquei com este grupo.
Logo após o momento de cânticos,
nos retiramos para o local que estava reservado para o nosso grupo. Reunimo-nos
numa varanda. Ao chegar, preparamos o espaço colocando as cadeiras em círculo. Todos
ficaram curiosos pelo fato de eu ter levado um grande caixa preta.
Iniciei nosso diálogo
introduzindo o tema "Repensando e atualizando a mensagem da Páscoa".
Disse-lhes que a Páscoa é muito mais que saborear os deliciosos ovos de
chocolate. É tempo oportuno para refletir sobre a vitória da vida sobre a
morte... do bem sobre o mal... do amor sobre a indiferença. Neste momento
falamos sobre a expectativas deles de ganharem o ovo de páscoa. Eles foram bem
participativos.
Logo após, numa linguagem
adaptada à idade do grupo, compartilhei a história da Festa da Páscoa.
Disse-lhes que tudo começou com os pastores nômades de Israel que no verão
mudavam-se de local em busca de novos pastos para seus rebanhos. Antes de se
transferirem de região celebravam uma festa semelhante à Páscoa. Celebravam a
possibilidade do recomeço. Após a libertação do Egito esta festa foi
reinterpretada pelo povo como sendo a memória do livramento que Deus lhes dera.
Celebravam a nova vida, a nova sociedade, o reinicio. Jesus reinterpreta
novamente esta celebração, instituindo
um memorial com novas significações. Diz que o pão da páscoa, passa a
significar seu corpo e o cálice, seu sangue. Esta era a nova aliança de Deus
com os homens. Ele veio para restaurar a vida no mundo. Depois da ressurreição
de Jesus a Igreja reinterpretou mais uma vez a festa considerando-a a vitória
de Jesus sobre a morte. Concluímos afirmando que desde sua origem esta festa
significou a vitória da vida sobre a morte. Portanto, PÁSCOA é tempo de optar
pela vida em meio a tantos sinais de morte existentes no mundo. Durante estes
poucos minutos que eu resumia a história eles ficaram bem atentos e em silêncio.
Depois desta breve explicação do
significado da Páscoa, convidei-os a realizar uma dinâmica de grupo.
Primeiramente pedi que eles falassem sobre algumas formas de maldade que geram
morte (física e emocional) na nossa sociedade. Colhi algumas pérolas deles. Falaram
sobre bullying, inclusive explicando
que é um tipo de agressão intencional (verbal ou física) feita de maneira
repetitiva. Acredito que eles haviam estudado o tema na escola, pois estava
muito fresquinha na mente de alguns este tema. Compartilharam também sobre
drogas, assalto, desrespeito com idosos, desprezo com os sem teto,
arrogância... etc.
Mendigo sendo desprezado por um jovem rico. |
Após este momento de discussão e
partilha eu lhes propus uma tarefa artística. Solicitei que eles
"CARICATURASSEM" algumas daquelas situações que haviam descrito e que
são sinais de morte (anti-vida) na nossa sociedade. Baseado numa definição de
Ariano Suassuna sobre caricatura, expliquei o significado e comentei o que
gostaria que eles fizessem.
Para que você leitor possa
entender o que eu disse, apresento abaixo uma declaração de Suassuna em uma de
suas aulas-espetáculo disponíveis no YOUTUBE. Segundo ele o primeiro a a
explicar o riso foi Aristóteles. Ele deu a seguinte definição de cômico:
"O cômico é uma desarmonia de pequenas proporções e sem conseqüências
dolorosas". A caricatura é uma arte do cômico e se baseia na desarmonia. É
muito difícil caricaturar uma mulher bonita, porque suas feições são
harmoniosas e não tem o que exagerar. Na caricatura ressalta-se os olhos
esbugalhados, o nariz pontudo, os lábios grossos, etc, porém, sem levar a conseqüências dolorosas.
Disse-lhes então que gostaria que
eles de forma artística exagerassem em algumas desarmonias existentes em nossa
sociedade e que promovem a morte.
Foi neste momento que abri a
"caixa preta" cheia de meus badulaques (vários tipos de óculos, diversas
perucas, gravatas e máscaras). Os olhos deles brilhavam quando viram todo aquele
material. Pedi que eles pensassem em quais desarmonias eles queriam encenar.
Quando liberei para pegarem os objetos, eles partiram pra cima com toda a
rapidez.
De posse de seus adereços eles
começaram a representar. Vestiram-se de mendigos e ricos, falando sobre a
injustiça social. Encenaram um adolescente cedendo seu assento a uma pessoa
idosa. Simularam um assalto acompanhado por violência. Contaram a história de
uma Pop Star arrogante. Foram extremamente criativos.
Após este momento artístico, eu
retomei a palavra e lhes disse que não devemos nos dobrar diante destas forças
de anti-vida. É necessário ações práticas de luta pela vida. De forma especial, destaquei a
necessidade de se vencer o sentimento de auto-comiseração (coitadinho de mim ou
de nós). Ao invés de nos sentirmos vítimas deste mundo e suas forças de
anti-vida, devemos nos unir com outras pessoas para proclamar a vida. Uma das
lições da Páscoa é que há esperança para as pessoas. Jesus veio para nos dar
vida abundante. Por isso, ao invés de ficarmos reféns da adversidades, somos
chamados a transformar a realidade. Só conseguiremos vencer os sinais de morte
se deixarmos Jesus nos auxiliar, pois ele é o único que venceu a morte e pode
nos ajudar a vencê-la ainda hoje.
Ao final, convidei uma vovó que
estava presente para me auxiliar a contar uma história. Pedi que ela nos
explicasse como que se preparava a pipoca. Depois que ela nos explicou, eu
retomei alguns pontos e apresentei a parábola "o milho de pipoca" de
Rubem Alves (leia a parábola abaixo).
Após contar a história eu lhes
disse que podemos aproveitar as adversidades para nos transformar e transformar
o mundo. Não disse para eles, mais digo a você leitor que a isto, chamamos
RESILIÊNCIA, ou seja, a capacidade que um indivíduo ou uma população tem, após
enfrentar momentos de adversidade, de se adaptar ou evoluir positivamente
frente à situação. Terminei minha fala, afirmando que num mundo marcado pelos
sinais de morte, nós cristãos temos uma mensagem de esperança. A vida brotará
novamente. Ressurreição é falar da vitória da vida sobre a morte. Terminei
minha fala, com as mesmas perguntas da parábola: E você o que é? Uma pipoca estourada
ou um piruá?
Encerramos o momento da varanda
assistindo um lindo vídeo onde crianças explicam a história da páscoa sugerido
por uma das participantes. Assim que terminou, nos dirigimos para o salão onde
o Rev. André ministrou a Ceia do Senhor a todos os presentes.
Ao final, como não poderia deixar
de acontecer numa reunião metodista, saboreamos deliciosos quitutes preparados
pelos presentes. Foi um tempo muito edificante. Algo que trago a mais em minha
caixa de badulaques é o aprendizado de que se permitirmos as crianças tem muito
a nos ensinar e a ensinar os seus coleguinhas do grupo. Construir o
conhecimento é mais que "depositar" informações na mente das
crianças. É aproveitar o que elas já sabem e juntamente com elas construir o
saber.
PARÁBOLA - O MILHO DE PIPOCA ( Rubem
Alves)
A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: Bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, com que ela mesma nunca havia sonhado.Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?
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