Hoje, logo após o
almoço, dirigi-me a uma cidade próxima a Campinas para fazer uma visita
hospitalar. Fui ver uma pessoa querida que sofrera uma violência absurda. Seu
ex-companheiro, não concordando com a separação, esperou-a no caminho do
trabalho e desumanamente jogou álcool em seu corpo e ateou fogo. Ela fora
vítima de um ato hediondo.
Como pastor e amigo,
meu desejo foi solidarizar-me com ela através de palavras, gestos, leitura
bíblica e oração. Gravei em meu celular uma manifestação de carinho e apreço de
um grupo de pessoas muito queridas dela. Presenteei-a com um livro devocional
intitulado "365 dias com Deus", onde fiz uma breve dedicatória como
um dos autores.
Meditei, junto com
ela, na mensagem do salmo 23. Um salmo tão conhecido, mas que naquele momento
teve uma aplicação especial. Além de destacar os cuidados de Deus como aquele
que cuida de nós com as provisões que estão explicitas tais como, descanso,
água, comida e companhia, destaquei no versículo 4 a expressão "tua vara e teu cajado me consolam".
Como ela estava com muito medo e assustada, expliquei-lhe o significado desta
expressão. O cajado, aquela vara comprida com a ponta torta, era usado para
puxar a ovelha, ou mesmo cutucá-la em momentos de necessidade. Já a vara era um
bastão (porrete) que o pastor usava para defender as ovelhas em qualquer
situação. Eu disse-lhe para pedir ao Deus-Pastor que a protegesse e lhe desse
segurança de que estava sendo cuidada. Oramos e conversamos um pouco.
Comprometi-me em visitá-la mais vezes, pois não há previsão de alta hospitalar.
Voltando do
hospital, refletindo sobre este ato extremamente violento, lembrei-me do
antropólogo francês, René Girard, conhecido por considerar o mimetismo a origem
da violência humana. Acredito que este rapaz não conseguia conviver com o fato de
ela estar feliz por não mais conviver com ele. Segundo Girard, o mecanismo da
vítima expiatória é fundador de qualquer comunidade humana e de qualquer ordem
cultural: quando o objeto de desejo é apropriável, a convergência dos desejos
conflitantes em sua direção engendra a rivalidade mimética que é a fonte da
violência.
Ao preparar este
breve texto, deparei-me com uma frase interessante de Valter Damata: "A
violência é a mais grave ameaça à vida em sociedade, à vida em comum, na medida
em que se caracteriza pela possibilidade de destruição do homem e da humanidade
do homem, pelo próprio homem".
De que adianta uma
lei como a "Maria da Penha" se não há fiscalização para que homens
violentos não se aproximem de suas vítimas. A mistura do ódio com o amor
confunde-nos demais. Estou triste, indignado e perplexo, pois por mais que veja
reportagens sobre este tema, hoje presenciei a dor de uma pessoa querida que
foi e está sendo vítima de seu agressor.
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