Por ocasião da celebração do Dia da Bíblia a realizar-se no próximo
domingo,08.12, compartilho com vocês um texto de Carlos Mesters, adaptado por Roséte
de Andrade. Em poucas palavras e numa linguagem bem acessível, Mesters nos introduz no mundo da BÌBLIA. Este pequeno opusculo contém material de reflexão para um curso de introdução à Bíblia. Vale a pena investir um tempo para ler o texto.
BÍBLIA
- UM LIVRO FEITO EM MUTIRÃO SOB A SALVADORA MÃO DE DEUS
1
- QUEM ESCREVEU A BÍBLIA?
Não foi uma única pessoa que escreveu a Bíblia. Muita gente deu a sua
contribuição: homens e mulheres; jovens e velhos; pais e mães de família;
agricultores, pescadores e operários de várias profissões; gente instruída que
sabia ler e escrever e gente simples que só sabia contar histórias: gente
viajada e gente que nunca saiu de casa; sacerdotes e profetas, reis e pastores,
apóstolos e evangelistas.
Era gente de todas as classes, mas todos convertidos e unidos na mesma
preocupação de construir um povo irmão, onde reinassem a fé e a justiça, o amor
e a fraternidade, a verdade e a fidelidade, e onde não houvesse opressor nem
oprimido.
Todos deram a sua colaboração, cada um do seu jeito. Todos foram
professores e alunos uns dos outros. Mas aqui e acolá, a gente ainda percebe
que nem sempre foi fácil. Alguns às vezes, puxavam a brasa um pouquinho para o
seu lado.
2
- QUANDO FOI ESCRITA A BÍBLIA?
A Bíblia não foi escrita de uma só vez. Levou tempo, muito tempo, mais
de mil anos. Começou em torno do ano 1250 antes de Cristo, e o ponto final só
foi colocado cem anos depois do nascimento de Jesus.
Aliás, é muito difícil saber exatamente quando foi que começaram a
escrever a Bíblia. Pois, antes de ser escrita, a Bíblia foi narrada e contada
nas rodas de conversa e nas celebrações do povo. E antes de ser narrada e
contada, ela foi vivida por muitas gerações num esforço teimoso de colocar Deus
na vida e de organizar a vida de acordo com a justiça.
No começo, o povo não fazia muita distinção entre contar e escrever. O
importante era expressar e transmitir aos outros a nova consciência do povo, nascida
neles a partir do contato com Deus. Faziam isto lembrando aos filhos a história
do passado e contando-lhes os fatos mais importantes da sua caminhada.
Como nós hoje decoramos as letras dos cânticos, assim eles decoravam e
transmitiam as histórias, as leis, as profecias, os salmos, os provérbios e
tantas outras coisas, que, depois foram escritas na Bíblia.
A Bíblia saiu da memória do povo. Nasceu da preocupação de não esquecer
o passado.
3
- ONDE FOI ESCRITA A BÍBLIA?
Bíblia não foi escrita no mesmo
lugar, mas em muitos lugares e países diferentes. A maior parte do Antigo e
Novo Testamento foi escrita na Palestina, a terra onde o povo vivia, por onde
Jesus andou e onde nasceu a Igreja.
Algumas partes do Antigo Testamento foram escritas na Babilônia, onde o
povo viveu no cativeiro, no século sexto antes de Cristo. Outras partes do
Antigo Testamento foram escritas no Egito, para onde muita gente tinha imigrado
depois do cativeiro.
O Novo Testamento tem partes que foram escritas na Síria, na Ásia Menor,
Na Grécia, e na Itália, onde havia muitas comunidades, fundadas ou visitadas
pelo Apóstolo Paulo.
Ora, os costumes, a cultura, a religião a situação econômica, social e
política de todos estes povos deixaram marcas na Bíblia e tiveram sua
influência na maneira de a Bíblia apresentar a mensagem de Deus aos homens.
4
- EM QUE LÍNGUA FOI ESCRITA A BÍBLIA?
A Bíblia não foi escrita numa única língua, mas sim em três línguas
diferentes. A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico. Era a
língua que se falava na Palestina antes do cativeiro.
Depois do cativeiro, o povo da Palestina começou a falar aramaico. Mas a
Bíblia continuava a ser escrita, copiada e lida em hebraico. E assim aconteceu
que muita gente já não entendia mais a Escritura Sagrada. Por isso, para que o
povo pudesse ter acesso a Bíblia, foram criadas escolinhas em todas as
comunidades e povoados. Jesus, quando menino, deve ter freqüentado a escolinha
de Nazaré, para aprender o hebraico e assim poder entender a Bíblia.
Assim, no tempo de Jesus, o povo da Palestina falava o aramaico em casa,
usava o hebraico na leitura da Bíblia e o grego no comércio e na política.
Neste mesmo tempo de Jesus, ainda não existia os escritos do Novo Testamento.
Só existia o Antigo. O Novo Testamento estava sendo vivido e preparado lá em
Nazaré.
Aconteceu ainda o seguinte: os judeus que, depois do cativeiro, tinham
emigrado da Palestina para o Egito, com a passar dos séculos foram esquecendo a
língua materna. Já não entendiam mais o hebraico nem o aramaico. Só entendiam o grego,
a língua da Grécia, que era falado até no Egito. Por isso no século terceiro
antes de Cristo, um grupo de pessoas resolveu traduzir o Antigo testamento do
hebraico para o grego. Foi a primeira tradução da Bíblia. Esta tradução para a
língua grega é chamada "Septuaginta" ou "Dos Setenta"
(tradução dos XVV).
Quando mais tarde, depois da morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos
saíram da Palestina para pregar o Evangelho aos outro povos que falavam o
grego, eles adotaram esta tradução grega dos Setenta e a espalharam pelo mundo.
Na época em que foi feita a tradução grega dos Setenta, a lista (cânon)
dos livros sagrados ainda não estava concluída. E assim aconteceu que a lista
dos livros desta tradução grega ficou mais comprida do que a lista dos livros
da Bíblia hebraica.
Ora, a diferença entre a Bíblia usada nas Igrejas Protestantes e a
Bíblia usada nas comunidades católicas vem desta diferença entre a Bíblia
hebraica da Palestina e a Bíblia grega do Egito. Os protestantes, a partir da
Reforma Protestante do Martinho Lutero em 1517, preferiram a lista mais curta e
mais antiga da Bíblia hebraica, e os católicos, permaneceram utilizando a
tradição e prática dos Apóstolos: ficaram com a lista mais comprida da tradução
grega dos Setenta.
Há sete livros a menos na edição da Bíblia usada pelos protestantes:
Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, 1 Macabeus e 2 Macabeus (e
também algumas partes do livro de Daniel e algumas partes do livro de Ester).
Estes sete livros são chamados "deuterocanônicos", isto é, são da
segunda (deutoro) lista (cânon), ou seja, são da coleção (cânon) de Alexandria
e não da coleção de Jerusalém.
Reconhecemos que os livros deuterocanônicos não contradizem a Mensagem
Divina e servem de instrução e também para o cultivo espiritual. Chamar estes
livros de apócrifos é um erro, primeiro porque foram reconhecidos como
autênticos e inspirados, tanto pelos apóstolos como pela Igreja de Jesus que,
sem exceção, durante muitos séculos os leu e encontrou neles o consolo da
mensagem divina. E também porque a palavra apócrifo significa "escritos
sem autenticidade ou cuja autenticidade não se provou". Ou seja, apócrifos
são na verdade os livros que a Igreja (particularmente os Apóstolos!) rejeitou,
por não ver neles a real inspiração de Deus.
Exemplo de livros apócrifos são, o Evangelho de Tomé, que falava dos
milagres de Jesus (dizendo, inclusive, que Jesus voava); o Evangelho de Maria,
que colocava Maria com poderes divinos, etc...
Apesar dessa diferença de 7 livros, as duas edições revelam claramente a
Mensagem de Deus: seu chamado, sua vontade, seu amor, sua missão, sua bênção.
5
- O ASSUNTO DA BÍBLIA:
O assunto da Bíblia não é só doutrina sobre Deus. Lá dentro tem de tudo:
doutrina, histórias, provérbios, profecias, cânticos, salmos, lamentações,
cartas, sermões, meditações, orações, filosofia, romances, cantos de amor,
biografias, genealogias, poesias, parábolas, comparações, tratados, contratos,
leis para organizar o povo, leis para o bom funcionamento do culto, coisas
alegres e coisas tristes, fatos concretos e narrações simbólicas, coisas do
passado, coisas do presente, coisas do futuro. Enfim, na Bíblia tem coisas que
dá para rir e para chorar.
Tem trechos da Bíblia que querem comunicar alegria, esperança, coragem e
amor. Outros trechos querem denunciar erros, pecados, opressão e injustiças.
Tem páginas lá dentro que foram escritas pelo gosto de contar uma bela história
para descansar a mente do leitor e provocar nele um sorriso de esperança.
A Bíblia parece um álbum de fotografias. Muitas famílias possuem um
álbum assim. Ou, ao menos uma caixa onde guardam suas fotografias, todas
misturadas, sem ordem. De vez em quando, os filhos despejam tudo na mesa para
olhar e comentar as fotografias. Os pais tem que contar a história de cada uma
delas. A Bíblia é um álbum de fotografias da família de Deus! Nas suas reuniões
e celebrações, o povo olhava as suas "fotografias", e os pais
contavam as histórias. Este era o jeito de integrar os filhos no povo de Deus e
de transmitir-lhes a consciência de sua missão e da sua responsabilidade.
A Bíblia não fala só do Deus que vai em busca do seu povo, mas também do
povo que vai em busca do seu Deus e que procura realizar-se de acordo com a
vontade divina. A Bíblia conta as virtudes e os pecados do povo de Deus, os
acertos e os enganos, os pontos altos e os pontos baixos. Nada esconde, tudo
revela. Conta os fatos do jeito que foram lembrados pelo povo. Histórias de
gente pecadora que procura ser santa. História de gente opressora que procura
converter-se e ser irmão. História de gente oprimida que procura libertar-se.
A Bíblia é tão variada como é variada a vida do povo. A palavra Bíblia
vem do grego e quer dizer livros. A Sagrada Escritura usada por nós evangélicos
tem 66 livros. É quase uma biblioteca. Poucas bibliotecas em nossas igrejas têm
a variedade dos 66 livros da Bíblia.
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